quinta-feira, outubro 28, 2004

Exorcista: o Início. Crise em Hollywood? (2004)




"Exorcista: o Início" pretender narrar as aventuras do padre Merrin (Stellan Skarsgard) na África, no ano de 1949, quando o exército inglês descobriu uma Igreja cristã datada do século V.
No entanto, quando Merrin, mergulhado numa crise espiritual provocada pelas atrocidades nazistas na Europa, chega ao sítio arqueológico para investigar esta misteriosa construção, eventos malignos começam a ocorrer.
Basicamente, o enredo deste malfadado filme.
Do começo ao fim, a quarta parte do "Exorcista" não dá susto algum e nem se aproxima da histeria coletiva causada pelo primeiro, que estreou em 1973. De fato, a história nem medo provoca. Após uma hora assistindo, a sensação dominante é a de ter sido logrado, além de um ímpeto quase incontrolável de levantar-se e ir embora do cinema. Apenas a curiosidade mórbida faz com que o espectador permaneça assistindo a esta heresia (entendendo, heresia no sentido mais pejorativo possível). E, graças a esta curiosidade, arrependemo-nos por não ter ido embora antes.
Este filme traz à luz um sério problema que tem rondado o cinema norte-americano: um esgotamento das temáticas e das técnicas narrativas. A total industrialização da produção cinematográfica, que certamente não data de hoje, criou uma escola que praticamente abole qualquer um que fuja às normas não explicitadas, mas dominantes das produtoras hollywoodianas. Uma destas fórmulas é a de tentar vender continuações de filmes outrora bem sucedidos. Contudo, tais continuações são, geralmente, fiascos que levam o público a até duvidar da qualidade do filme que as estimulou.
"Exorcista: o Início" parece uma colagem feita à partir de outros filmes. Logo nas primeiras cenas, Merrin pode ser facilmente identificado com um Indiana Jones mórbido, numa exploração arqueológica qualquer, inclusive com as mesmas frases de efeito que insuflam no filme um ar cômico. Há a cena do chuveiro de "Psicose" e uma tempestade de areia aos moldes de "A Múmia", mas tudo deslocado e completamente sem nexo algum com a trama. Exorcismo mesmo somente na última meia hora e da maneira mais absurda possível. O texto é o mesmo do primeiro filme, porém, em compensação, a endemoninhada é um misto de Homem-aranha, Dragon Ball Z e de "13 fantasma". A cena final, mais parece uma cena de luta saída do fliperama do que um ritual religioso de expurgação espiritual.
Não é possível entender para quem este filme se destina, ou que tipo de indivíduo sairá satisfeito, mas, sem sombra de dúvida, "Exorcista: o Início" está mais para um filme clichê de aventura do que para terror. E só ficarão satisfeiros aqueles que já estão completamente absorvidos pela indústria de cultura de massas, sem o senso crítico para perceber que o cinema norte-americano saiu dos trilhos e, aparentemente, não sabe para onde retornar.
Enquanto que o cinema global tem buscado alternativas inteligentes e ousadas para produzir filmes interessantes e com qualidade, Hollywood tem investido cada vez mais num estilo medíocre e alienante que progressivamente o tem caracterizado.
"Exorcita: o Início" é decepcionante. Só isto já bastaria para defini-lo.

segunda-feira, outubro 11, 2004

Monster - Desejo Assassino (2003)




É simplesmente inacreditável o que conseguiram fazer com a linda Charlize Theron neste filme.

Ela interpreta Aileen Wuornos, considerada a primeira assassina em série dos EUA.

Aileen é uma prostituta completamente arrasada pelo o rumo que sua vida tomou. No entanto, após conhecer e se apaixonar por Selby (Cristina Ricci), ela decide tentar mudar de vida. Contudo, quando um cliente a estupra e está prestes à matá-la, Aileen reage e acaba assassinando-o.

Uma sociedade sem compaixão é uma barreira para Aileen, quando, ao se recompor do crime que cometera, ela parte em busca de uma profissão menos degradante. Impelida pelas reclamações de Selby, Aileen retorna à vida de prostituição. Só que desta vez, Aileen descobre que assassinar seus clientes é mais lucrativo e "honroso" do que dormir com eles.

Aileen possui uma mentalidade quase semelhante a de Raskolnikov, já que ela acredita que algumas pessoas transcendem o "Bem o o Mal". Portanto, para ela, os crimes cometidos não passavam de um mero artifício de sobrevivência.

Uma interpretação extraordinária de Theron e, realmente, desta vez, o Oscar merece todos os créditos por tê-la premiado como a "Melhor Atriz". É assustador vê-la encarnando de maneira tão singular aquela assassina. Charlize Theron demonstrou a grandiosidade do seu talento neste papel.

O Poderoso Chefão (1972)




É quase com vergonha que eu confesso que jamais havia assistido a "O Poderoso Chefão" antes, um dos maiores filmes da história do cinema norte-americano.

O filme narra a saga da família de mafiosos Corleone, encabeçada por Don Vito Corleone, a interpretação mais legendária de Marlon Brando. Num Estados Unidos ainda atordoado pelo o fim da Segunda Grande Guerra, os líderes do crime organizado de Nova Iorque estão expandindo suas áreas de influência. Uma guerra entre as maiores famílias de mafiosos é declarada, quando Don Corleone se recusa a ingressar nos negócios vinculados ao narcotráfico. Tentam assassiná-lo, o que motiva Michael (Al Pacino), o filho caçula de Vito e resistente às maneiras como seu pai acumulou a fortuna da família, a assumir o controle das operações e vingar o atentado contra Vito.

Uma narrativa repleta de reviravoltas e extremamente complexa em suas ramificações, bem aos moldes do romance de Mario Puzzo.

Sem sombra de dúvidas, um dos melhores filmes já realizado em solo americano e digno da fama que conquistou.

Tommy (1975)




"Tommy" é um musical escrito pelo agressivo guitarrista do "The Who", Pete Townshend.

Tommy (Roger Daltrey) é um garoto que fica cego, surdo e mudo após ver seu pai ser assassinado pelo o amante de sua mãe e passa a vida imerso num mundo imaginário. Ao se tornar adulto, ele se torna um prodígio do Fliperama, alcançado fama mundial. Apesar dos esforços incomensuráveis de sua mãe para tentar curá-lo, o bloqueio sensorial de Tommy é algo criado por ele mesmo para se proteger e, por isto, a superação deve vir do seu interior e não de fora.

Repleto de referências místicas, principalmente ao Novo Testamento, "Tommy" é uma metáfora moderna de um novo Messias. Além disto, é um ataque severo à maneira de como as crianças eram educadas numa sociedade pós-Guerras e aos rituais absurdos e às proibições austeras das igrejas cristãs.

Uma trilha sonora magnífica com várias canções antológicas da banda "The Who". Conta também com a participação de várias celebridades musicais como: Eric Clapton, Elton John, Tina Turner, o próprio vocalista do "The Who", Roger Daltrey, como Tommy, e a inusitada participação do ator Jack Nicholson como um psiquiatra que tenta curar o jovem.

Não é um filme imprescindível, mas é bastante divertido. Um tanto psicodélico e muito bem humorado.

Encontro e Desencontros (2003)




Eu realmente me esforcei para compreender o furor que "Encontros e Desencontros" causou na crítica norte-americana, mas não fui capaz de determinar a razão que fez um filme tão fraco e inexpressivo angariar o Oscar de Melhor Roteiro Original.

Bob Harris (Bill Murray) é um famoso ator americano que viaja ao Japão para gravar uma série de comerciais. Lá, ele encontra Charlotte (Scarlett Johansson), também americana e oprimida pela solidão de estar num país estrangeiro e pela constante ausência de seu marido fotógrafo.

Uma estranha amizade se forma entre Bob e Charlotte, o que permite que eles interajam com aquele mundo, sem, no entanto, se integrarem.

É a típica história xenofóbica americana, na mesma linha de "A Praia", "Busca Frenética", "Expresso da Meia-Noite", entre tantos outros. Contudo, o enredo é conduzido de maneira mais amena e o medo terrível que os americanos têm de deixar sua amada e bela Terra da Liberdade se reduz a um mero incômodo existencial.

De fato, há uma certa complacência da crítica com Sophia Coppolla pelo simples fato de ela portar aquele notório sobrenome. Nem "Virgens Suicidas" tampouco "Encontros e Desencontros" possuem a qualidade e o impacto para destacá-la ao nível de grandes diretores e roteiristas. Com certeza, boa parte da influência que ela exerce deriva do berço no qual ela nasceu. Se ela fosse brasileira e da família Silva, jamais teria dirigido sequer um curta-metragem.

Mas há quem goste e elogie. Entretanto, geralmente estas pessoas utilizam as indicações e premiações do Oscar como critério de qualidade. Um critério bastante duvidoso...

quinta-feira, outubro 07, 2004

Desmundo (2003)


Baseado no romance homônimo de Ana Miranda, "Desmundo" é, na minha opinião, um dos melhores filmes já feitos no Brasil e, certamente, uma das melhores resconstruções históricas do cinema.
Simone Spolladore é Oribela, uma orfã portuguesa enviada ao Brasil para desposar algum dos colonizadores que aqui já estão. No entanto, a rebeldia desta jovem faz com que ela seja aceita apenas pelo mais rude dos pretendentes, Francisco de Albuquerque, magistralmente interpretado por Osmar Prado.
Desprovido de qualquer sentimentalismo, "Desmundo" é o reflexo cru dos primórdios da nação brasileira, povoada de nativos, de grotescos civilizadores e de párias que buscam refúgio numa terra de ninguém.
A opção de reproduzir a pronúncia e o léxico do português arcaico somente contribui para aumentar a impressão de autenticidade do filme e o estranhamento de Oribela ao aportar nesta terra inóspita é desolador.
A trilha sonora composta por John Neschling é condizente com o clima da terra recém-conquistada, onde a cultura primitiva autóctone começa a se confundir e se mesclar com a estrangeira européia.
Uma obra-prima realista e agreste.

Tiros em Columbine (2002)




O primeiro filme de Michael Moore, "Tiros em Columbine", diz mais respeito a um público norte-americano, do que em nível global.

O documentarista tenta compreender quais sãos as razões possíveis que justifiquem o crime hediondo de dois adolescentes na escola secundarista de Columbine. Sua investigação o conduz a uma cultura armamentista fundada na própria Constituição norte-americana, na qual todo americano tem o direito de portar uma arma.

Além de enfatizar este fascínio bélico, Moore também avalia as semelhanças e as diferenças entre os EUA e os seus vizinhos do norte, o Canadá, e a constatação de que, mesmo apesar de um grande número de canadenses portadores de armas de fogo (proporcionalmente equivalente à americana), os índices de criminalidade neste país são bastantes inferiores aos dos Estados Unidos.

Moore atribui parte da culpa à imprensa, que explora a criminalidade como entretenimento, e o preconceito racial por esta mentalidade americana.

Não tem a agilidade tampouco o impacto de "Farenheit, 11 de setembro", mas atinge o ponto nevrálgico daquela potência mundial - uma sociedade branca, suburbana, racista, sexista, preconceituosa, beligerante, segregacionista e resistente quanto a reavaliar suas próprias convicções.

O Terminal (2004)




A dupla Tom Hanks e Steven Spielberg pelo jeito deu certo. Após trabalharem juntos em "O Resgate do Soldado Ryan" e "Prenda-me se for Capaz", eles retornam em "O Terminal".

Viktor Navorski (Tom Hanks) é um cidadão de um país imaginário do leste europeu, Karkhozia, o qual, ao desembarcar no aeroporto JFK, em Nova Iorque, é impedido de pisar em solo americano por causa de um problema diplomático - uma guerra civil em Karkhozia tornou inválido os passaportes de seus cidadão, portanto, Viktor não possui mais uma nação. Ele não pode retornar ao seu país em guerra, tampouco pode ingressar nos Estados Unidos. Até que o problema seja solucionado, o supervisor do aeroporto permite que Viktor aguarde na área de trânsito dos passageiros.

Nos primeiros instantes, a impressão que se tem é de que se está assistindo a "O Náufrago", só que, ao invés de uma ilha, Tom Hanks tem de sobreviver agora no aeroporto. Só que esta impressão inicial logo se desvanece quando o enfoque passa a ser os relacionamentos humanos.

É interessante a abordagem da relação entre o poder institucionalizado, representado pela administração do JFK, e as afinidades pessoais. É uma inversão da visão de que todo americano é xenófobo e de que todo viajante aos EUA é um imigrante.

Catherine Zeta-Jones, no papel de uma comissária de bordo, está péssima. Ela não possui a naturalidade de Tom Hanks e quase todas as cenas na qual ela aparece poderiam ser descartadas. A interpretação de Zeta-Jones não favorece a tentativa de humanização de uma comissária.

É um filme para dar algumas (tímidas) risadas e para torcer pelo destino de Viktor.

Baseado na história real de um iraniano que ficou detido no aeroporto Charles De Gaulle, "O Terminal" é inteligente e muito bem desenvolvido.

Irreversível (2002)




"Irreversível" é narrado retrogressivamente, assim como o filme "Amnésia". O foco da história é o estupro de Alex (Monica Belucci) e as conseqüências dos atos de Marcus (Vicent Cassel), seu namorado, e de Pierre ((Albert Dupontel), quando eles decidem se vingar do estuprador.

É bastante interessante a maneira como as tomadas de câmera foram filmadas numa tentativa de representar a confusão das personagens, tanto que, no início, as cenas chegam a ser nauseantes. À medida que o enredo retrocede, os humores se acalmam e o clima de tensão se ameniza. No entanto, a vingança de Marcus e de Pierre somente demonstra quanto uma situação dramática não pode ser revertida e que a inocência anterior não pode ser recuperada.
Este filme tem algumas das cenas mais fortes que já vi no cinema e, supreendentemente, diferente dos demais espectadores, a sequência que mais me chocou foi o descontrole de Pierre ao esmagar a cabeça do Tênia, o estuprador, logo nos primeiros minutos, ao invés da cena de estupro propriamente dita.

"Irreversível" é forte, agressivo e, certamente, não é para todo tipo de público, mas é muito bem composto e profundo.

domingo, outubro 03, 2004

21 Gramas (2003)




Alguns estudos - um tanto duvidosos - afirmam que, na hora da morte, um ser humano perde 21 gramas de seu peso.

É justamente estes 21 gramas que unem o destino de três pessoas, Paul (Sean Penn), Jack (Benicio Del Toro) e Cristina (Naomi Watts).

A não-linearidade da narrativa compremete, ao menos inicialmente, a compreensão do que está ocorrendo. O espectador é lançado numa trama complexa e turbulenta. Aos poucos, porém, as peças vão se encaixando.

Cristina, após perder seu marido e suas duas filhas numa atropelamento, é devastada pela solidão e pela depressão. Paul, um doente terminal, recebe o coração do falecido marido de Cristina e, assim, tem sua vida salva. Jack, um ex-presidiário, vê sua vida desabar quando, por distração e excesso de velocidade, atropela três pessoas e foge do local do acidente.

Motivada por uma ânsia de vingança, Cristina se alia a Paul com a intenção de procurar e assassinar Jack.

Desespero, perdão, amor, vida e morte se misturam num reflexo de como a existência é este turbilhão de experiência, vitórias e derrotas.