domingo, janeiro 30, 2005

Os Sete Samurais (1954)



Durante a alta idade média japonesa, os camponeses de um vilarejo se desesperam ao tomar ciência do iminente ataque de bandidos sanguinários. Instruídos pelo ancião da vila, um grupo de campesinos parte para a cidade à procura de um hábil samurai que possa protegê-los da gana assassina dos vilões. Com a assistência de Kambei Shimada (Takashi Shimura), um espadachim ronin, eles conseguem reunir um grupo de sete samurais dispostos a cumprir tal tarefa com o mínimo de recompensa e nenhuma fama.
A obra-prima do mestre Akira Kurosawa é poesia pura. O desapego dos samurais, que partem numa empresa com risco de morte apenas pelo desejo de ajudar os camponeses, é legendário. O engraçado Kikuchiyo, interpretado pelo reconhecido ator nipônico Toshirô Mifune (o que estrelou vários filmes de Kurosawa), descontrai uma trama repleta de tensão, à espera do súbito ataque dos bandidos.
Um filme muito bem elaborado, inclusive com elementos estratégicos extraídos do livro "Arte da Guerra", "Os Sete Samurais" se tornou a obra mais cultuada deste diretor japonês.
A sensibilidade de Kurasawa é inigualável e toda sua filmografia é perfeita.

A Cor do Paraíso (1999)


O filme iraniano "A Cor do Paraíso" é mais uma belíssima obra de Majid Majidi, o mesmo diretor de "Filhos do Paraíso".
Seguindo a tradição do cinema iraniano de abordar o universo infantil, Majidi traz a história de Mohamad, um menino cego que busca o sentido da vida nas mínimas coisas, nos sons mais singelos da natureza e na sensibilidade do toque. Apesar da trama aparentemente pueril, "A Cor do Paraíso" possui quase todos os elementos de uma tragédia grega, um personagem com a falha trágica (o pai de Mohamad), a vontade dos deuses (neste caso de Alá) que rege todas as coisas, uma série de eventos relacionados que conduz à epifania e ao final catártico.
Uma fotografia magnífica emoldura este filme que supera "Filhos do Paraíso" em sua complexidade humana e na representação de uma multiplicidade de aspectos emocionais. Certamente, é um degrau ascendente na carreira de Majidi, que consegue como poucos cativar com uma história tão simples e cotidiana.
Belo e emocionante!

quinta-feira, janeiro 27, 2005

Ray (2004)



O belíssimo filme dirigido por Taylor Hackford e estrelado por Jamie Foxx traz ao cinema a história no pianista norte-americano Ray Charles Robinson. Após ficar cego aos 7 anos, o negro nascido no estado da Georgia se vê obrigado a superar uma série de dificuldades para poder viver de sua arte. Uma meteórica trajetória de sucesso é contrabalanceada pelo vício de heroína, um fantasma sempre presente ameaçando as conquistas do artista.
"Ray" é um dos fortes canditados ao prêmio de melhor ator para Foxx, o que seria um duplo tributo ao cantor, falecido em 2004. Apesar da grande ênfase no problema das drogas, "Ray" não é um filme cuja finalidade seja uma crítica moralista ao vício. De fato, o principal foco é a luta interna travada por Ray Charles para jamais ser subestimado como um deficiente e uma necessidade constante de honrar sua mãe, seu maior exemplo de força.
Como era de se esperar, a trilha sonora é fantástica e a seleção das canções de Ray Charles foi primorosa. Todos os grandes sucessos do pianista são apresentados com a habilidosa interpretação de Foxx ao piano e com a voz do próprio Ray Charles.
Mesmo com o final tendendo à pieguisse, "Ray" é um filme que emociona e dá saudades do pianista que durante décadas teve uma carreira estrondosa.

domingo, janeiro 23, 2005

Depois da Reconciliação (2000)

O filme dirigido por Anne-Marie Mieville, a esposa do conceituado diretor Jean-Luc Godard, retrata o diálogo de quatro amigos versando sobre os mais diversos assuntos: Filosofia, sofrimento, amor, expectativas...
Contudo, "Depois da Reconciliação" não passa de uma simulacro de pensamento reflexivo e recortes desconexos de filosofias. Além disto, ao pretender a máxima naturalidade, o filme acaba expondo sua total artificialidade.
Ao tentar desenvolver as personagens como arquétipos, Mieville desaba para a formação de esterótipos de intelectuais burgueses e prolíxos. O resultado final é uma colagem de fragmentos reflexivos dispersos (Filosofia da Linguagem, Existencialismo, Fenomenologia, o pessimisto schopenhaueriano, o niilismo nietzshiano), cuja finalidade é transmitir ao espectador uma complexida que não é intrínsica ao argumento, mas sim porque não faz sentido algum. Um falar por falar.

sexta-feira, janeiro 21, 2005

Herói (2002)



Uma verdadeira obra de arte!
Finalmente vemos Jet Li novamente fazendo aquilo que sabe de melhor - épicos de espadachins chineses. Em "Herói", ele interpreta o lutador Sem Nome que é recebido pelo rei Qin após ter liquidado três dos maiores assassinos das sete nações que compunham a China primitiva. Céu, Espada Quebrada e Neve Voadora haviam se unido para matar Qin por causa de sua ânsia por conquistas.
"Herói" é simplesmente espetacular, com uma fotografia perfeita e uma história repleta de sutilezas e variações. Cada um dos flashbacks é retratado em cores diferentes, simbolizando aspectos emocionais diversos.
O diretor Zhang Yimou desenvolveu uma obra na qual todos os elementos estão intimamente vinculados, criando uma atmosfera de elevação espiritual e de harmonia tão prezada pela sabedoria chinesa. Fundindo com tamanha perfeição imagem, música e artes marciais, "Herói" pode ser considerado um dos filmes mais belos já realizado nos últimos anos. A atenção minuciosa aos detalhes, desde uma gota de chuva que gentilmente toca o solo até a flecha assassina que atravessa os telhados das casas, faz com que assistir o filme de Yimou torne-se uma experiência estética das mais profundas. É simplesmente inacreditável a estesia proporcionada pelas belíssimas cenas de luta, que de violentas não têm nada, comparáveis a um ballet preciso e sincronizado.
Transitando entre o limite da mitologia e da história, "Herói" é um destes filmes que devem ser contemplados como o ápice da expressão artística que são.

domingo, janeiro 16, 2005

Nosferatu (1922)



Trazido às telas dos cinemas em 1922 pelo grande diretor expressionista F. W. Murnau, "Nosferatu" foi a primeira adaptação da legendária história do conde romeno Drácula para a linguagem cinematográfica.
Thomas Hutter é um corretor de imóveis de Bremen enviado à Transilvânia para vender uma casa ao Conde Graf Orlock (Murnau não pôde usar os nomes originais de Bram Stocker, pois este não permitiu a adaptação). Lá, Thomas é feito prisioneiro e descobre a macabra realidade sobre o conde. Já de posse de sua nova propriedade em Bremen, Conde Orlock parte em viagem, deixando um rastro de morte e destruição por onde passa.
Um dos maiores e cultuados clássicos do cinema, "Nosferatu" é o típico filme sobre o qual muitos falam, mas poucos realmente assistiram. Numa linguagem estranha ao espectador contemporâneo (filme em preto e branco, mudo), mesmo assim ele consegue impressionar por sua capacidade inacreditável em transmitir os pensamentos e as sensações dos personagens de maneira não-verbal. Max Schreck, no papel de Nosferatu, até hoje arrepia com sua interpretação do vampiro dos Cárpatos. Além disto, o filme de Murnau é fonte de inspiração para quase todas as adaptações posteriores e é supreendente ver como ver como Coppola reproduziu ou simulou efeitos à partir de "Nosferatu" em seu "Drácula de Bram Stocker".
Murnau dirigiu um filme que se tornou um referencial para o cinema internacional. Obrigatório para todo amante da sétima arte.

Sob o Olhar do Mar (2002)


"Sob o Olhar do Mar" foi o último roteiro escritor pelo célebre Akira Kurosawa e dirigido por Kei Kumai.
O-Shin é uma gueixa que habita num vilarejo repleto de casas-de-chá e de hospedarias nas quais homens dos mais diversos níveis sociais e profissões vão para se divertir. No entanto, O-Shin não consegue disassociar sua ocupação da emotividade e freqüentemente se apaixona por algum de seus clientes. Só que sua esperança em deixar tal vida é sempre frustrada pelas contigências hierárquicas da sociedade japonesa feudal e ela se vê acorrentada num universo que ela repudia.
O mergulho que "Sob o Olhar do Mar" nos permite na cultura japonesa é incrível. Geralmente, a perspectiva assumida pelas histórias tendem a abordar experiências masculinas e, particularmente, o quase mitológico mundo dos samurais. Já a trama de O-Shin e de seus amores permite um vislumbre da sub-condição feminina das nipônicas, sem perder também a delicadeza e as sutilezas do coração de uma mulher.
Com uma fotografia belíssima e ritmo cativante, "Sob o Olhar do Mar" é um tributo aos amores impossíveis e a manter o fogo da esperança aceso mesmo nas situações mais adversas.

sábado, janeiro 08, 2005

O Grito (2004)



Traduzir "The Grudge" (O Rancor) por "O Grito" foi uma infelicidade das grandes, principalmente porque em "O Grito" não há mais do que três gritos.
Foi bastante interessante como o diretor Takashi Shimizu adaptou o seu próprio filme, "Ju On: The Grudge", para o público norte-americano. Pois o roteiro se desenvolve de maneira bastante semelhante, inclusive com falas idênticas, até a metade do filme, quando, então, o original e o remake se distanciam. Buscando privilegiar a atriz Sarah Michelle Gellar, ele a transforma em protagonista de uma história que, originalmente, não possuía uma protagonista definida.
O que Shimizu fez nada mais foi do que tornar digestível uma complexa história japonesa em algo atrativo e compreensível para o limitado público ocidental. Em "Ju On", o espectador nunca sabe exatamente em que momento temporal a história está se passando, porque não há nenhuma indicação de que se trata do presente, passado ou futuro. Já em "O Grito", Shimizu, apesar de manter a narrativa não-linear, deixa bastante claro o que é presente e passado. Além disto, ele ainda esclarece qual é a razão de a casa ser assombrada pela alma da pavorosa Kayako, enquanto que em "Ju On" tudo permanece numa aura de mistério e de especulação.
É um bom filme de terror e cumpre sua tarefa de amedrontar (mas não tanto quanto o original).
Basicamente, "O Grito" aborda uma lenda tradicional japonesa, na qual se diz que quem morre sentindo um grande rancor permanece no local da morte, e qualquer pessoa que entrar neste recinto também será vitimada.
Este influxo tremendo de diretores, atores e roteiros provenientes do extremo oriente, assemelha-se muito àquela geração do pós-guerra, quando uma porção de alemães refugiados e atores e diretores do leste europeu contribuíram grandemente para a consolidação da indústria cinematográfica norte-americana. Agora, uma nova linguagem está penetrando em Hollywood, uma linguagem mais sutil, estética e mistificada.
A dúvida que permanece é: será que os orientais mudarão Hollywood ou será que Hollywood tragará os orientais?

terça-feira, janeiro 04, 2005

Traffic (2000)



Composto por um time de estrelas (Benicio Del Toro, Michael Douglas, Catherine Zeta-Jones, Dennis Quais e Salma Hayek), Traffic é um panomara do mundo do tráfico de drogas nos Estados Unidos e México. Partindo do alto escalão do combate às drogas do governo americano, passando por policiais da narcóticos e atingindo até os usuários de entorpecentes, este filme é um ataque frontal à hipocrisia e idealismo que há quando se aborda, principalmente pela mídia, os problemas do narcotráfico.
O diretor Steven Soderbergh foi muito hábil ao montar este complexo quebra-cabeças que é a rede deste universo que sobrevive às custas dos jovens e sob a custódia de políticos influentes. Além disto, o purismo ao retratar o México, com o atores falando espanhol, aumenta ainda mais a sensação de estranheza e de realismo do filme. Filtros variados foram usados para distinguir os ambientes e os níveis sociais, desde o sépia para retratar, de maneira ligeiramente preconceituosa, o suposto caos e ausência de leis no México, até o azul para o frio ambiente de uma elite desestruturada pelo vício.
Uma excelente atuação de Benício Del Toro e até Catherine Zeta-Jones, tão medíocre na maioria dos papéis que interpreta, consegue superar sua falta de talento e equiparar-se ao forte time de atores.
Soderbergh decepciona um pouco ao concluir o filme, pois a aura de desespero e impotência é abandonada e a história termina com uma centelha de esperança, contradizendo todo o desenrolar da trama.

sábado, janeiro 01, 2005

Bob Esponja - O Filme



O primeiro longa com o personagem Bob Esponja não cumpre com o prometido. Não é engraçado, não possui uma boa história e não está à altura da série televisiva.

O patrão de Bob, o Sr. Sirigueijo, é novamente vítima das armações do maquiavélico Plankton, que deseja roubar a fórmula secreta do famoso hambúrguer de siri. Para tanto, ele rouba a coroa do rei Netuno e planta pistas que incriminam o Sr. Sirigueijo. Bob Esponja e seu amigo Patrick partem, então, numa perigosa viagem às profundezas do mar para recuperar a coroa do rei.

No entanto, a trama é pouco consistente. Ao contrário de "Os Incríveis", que é um enredo adulto mascarado de animação infantil, Bob Esponja não consegue superar piadas simplórias e cenas pastelonas para conseguir arrancar uns poucos risos. É o típico caso de desenhos que são trazidos da TV para o cinema sem possuírem a consistência necessária para um roteiro de uma hora e meia. Incontáveis são os exemplo de desenhos que sucumbiram quando foram adaptados para a telona e Bob Esponja poderia ser um destes, apesar da pouca audiência.