sexta-feira, fevereiro 01, 2008

Festa de Família (1998)


"Hoje, um temporal tecnológico foi deflagrado, o resultado será a definitiva democratização do cinema. Pela primeira vez, qualquer um pode fazer filmes".

Inspirados nesta idéia, Thomas Vinterberg e Lars Von Trier idealizaram o movimento Dogma 95, que visava romper com o cinema comercial, com a alienação da arte cinematográfica e a idiotização dos espectadores. Para tanto, o cinema não deveria ser uma simulação do real, mas sim o real sendo filmado. Obter este resultado exigiria a extinção do cineasta, a submissão dele ao improviso dos atores ou à força do roteiro. A trama acontece aqui e agora, filmada em baratas câmeras digitais, com som ambiente, sem maquiagem, sem tiros, sem mortes, iluminação natural.

Todas estas características poderiam significar a produção de obras toscas, "inassistíveis", amadoras, caseiras. No entanto, basta assistir ao primeiro filme do movimento Dogma 95, dirigido pelo próprio Vinterberg, para perceber que este projeto está longe de ser amador, frívolo ou mal-sucedido.

A história se passa num hotel-fazenda na Dinamarca, quando uma família se reúne para comemorar o aniversário de 60 anos do patriarca. Contudo, durante os brindes, o filho mais velho dele se ergue e revela ter sido molestado sexualmente pelo pai em sua infância. Disto, decorre uma série de conflitos que afloram, na medida em que a festa avança pela noite.

"Festa de Família" é uma crítica visceral aos valores burgueses, à hipocrisia social, ao preconceito, aos estereótipos. Vinterberg põe o dedo em todas as feridas, em expostas e naquelas que todos querem ocultar.

Se os diretores deste movimento conseguiram transcender o mercandejamento do cinema, talvez esta seja uma tarefa para a História decidir, mas que eles atingiram um patamar de autencididade e uma cota de genialidade, disto não há como duvidar.