sexta-feira, julho 22, 2005

Efeito Borboleta (2004)



A figura de Ashton Kutcher pode ser facilmente associada a filmes de jovens americanos estúpidos e com vidas vazias. De fato, ele encarna, ao menos aparentemente, uma juventude idiotizada, sexista e com projetos de vida materialistas.
Por todas estas razões, vê-lo atuando num filme como "Efeito Borboleta" imediatamente surpreende.
A intrigante história funda-se num dos muitos paradoxos temporais que se desenvolveu durante o século XX: Quais seriam as conseqüências na vida individual e coletiva se a viagem no tempo fosse possível?
As duas principais teorias podem ser resumidas na seguinte dicotomia:
1 - a História não pode ser modificada, ou seja, indepentemente das ações individuais, a História possui um determinismo que faz com que ela, de um modo ou de outro, repita sempre os mesmos eventos;
2 - A História pode ser modificada, ou seja, atos individuais podem modificar o rumo dos acontecimentos e resultar em eventos completamente diversos.

A trama de "Efeito Borboleta" privilegia a segunda destas possibilidades e Evan (Kutcher), um rapaz com a incrível capacidade de retornar, através de suas memórias, no tempo, vê-se enredado nas infindáveis possibilidades alternativas de existências, caso altere algum dos aspectos de sua vida.
Com uma narrativa inteligente e estruturado de maneira bem mais simples do que o rebuliço teórico que expus, este filme é um estímulo à reflexão. Talvez mais do que pensar em como seriam nossas vidas caso houvéssemos agido de maneira diferente, "Efeito Borboleta" nos faz cogitar se a liberdade de decidir os rumos de nossa existência fundam-se mais numa ilusão de que poderíamos ter mudado as coisas do que a capacidade efetiva para fazê-lo.
Realmente, um filme que causa perplexidade e reflexão.

sexta-feira, julho 01, 2005

Sin City, A Cidade do Pecado (2005)



Assustadoramente magnífico!
O diretor Roberto Rodriguez apostou alto ao fazer uma tradução (ele mesmo preferiu este termo, ao invés de adaptação) do HQ "Sin City", criado por Frank Miller. Apostou alto, mas não podia ter acertado mais. O filme é simplesmente espetacular, arrasta-nos para o interior de uma cidade decadente, embebidos num clima noir, e cercados por más companhias. Uma fotografia perfeita, que recria para o cinema a estrutura de um Comics, tão próximo desta linguagem que Rodriguez utilizou os gibis de Milller como storyboards.
Um elenco de primeira linha surpreende ao encarar a missão de rodar um filme com uma proposta narrativa e visual completamente distinta do cinema que se produz hoje nos EUA. Bruce Willis, Rutger Hauer, Mikey Rourke, Clive Owen, Jessica Alba, Britney Murphy, Elijah Wood, Benicio Del Toro, isto para citar somente rostos mais conhecidos, são metamorfoseados nas personagens do universo canibalesco de Frank Miller. Eles incorporam tão visceralmente suas personagens que, após alguns instantes, eles despem-se de suas identidades e não mais os reconhecemos como as estrelas hollywoodianas, mas sim como aqueles homens e mulheres que se arrastam pelas ruas de uma cidade imunda, na qual a polícia é corrupta, os bandidos possuem ética, as prostitutas não levam desaforo para casa e na qual a impunidade rola à solta.
A narrativa é dividida em três grandes contos, cada um com unidade própria. Ao contrário de uma prática que se tornou comum, a de dividir micro-histórias e mesclar a narrativa, compondo um roteiro fragmentado, no qual mal nos conseguimos situar, pois quando criamos uma identificação com a trama, ela é interrompida e somos lançados para outros eventos, Roberto Rodrigues preferiu, sabiamente, dividir a trama em três blocos.

MARV
No primeiro, acompanhamos a incrível história de Marv (Mikey Rourke), um troglodita que parte em busca de vingança após a prostituta Goldie ter sido morta ao seu lado na cama de um hotel barato. Ao contrário das motivações vingativas tradicionais, nas quais o herói parte numa ânsia de desforra pela morte do irmão, da mãe, do tio, ou de algum ente querido, Marv havia conhecido Goldie apenas algumas horas antes. No entanto, o fato de ela ter dedicado sua atenção a ele, um homem horrendo (quase desfigurado), é o suficiente para que Marv sinta-se na obrigação de vingar a morte da única mulher no mundo que lhe deu algum valor.
Num ritmo frenético e envolvente, seguimos Marv na sua caçada de sangue, que somente terá fim quando ele descobrir quem é mandante daquele assassinato.

DWIGHT
Nem mesmo aqueles que possuem pinta de mocinhos são perdoados na Cidade do Pecado. Não sabemos qual é o passado de Dwight (Clive Owen), mas frases soltas nos indicam que ele é alguma espécie de criminoso foragido. Ao se relacionar com Shellie (Britney Murphy), a garçonete de uma taverna imunda, Dwight se vê envolvido num conflito com o ex-namorado dela, Jack (Benicio Del Toro). Ao seguí-lo até o bairro das prostitutas e vê-lo sendo assassinado pelas meretrizes, ele se envolverá nas maiores dificuldades para se desafazer do corpo do finado, já que este incidente pode causar uma guerra entre as prostitutas, a polícia e a máfia.

HARTIGAN
Hartigan é um dos poucos policiais incorruptíveis em Sin City. Logo no início do filme, ele arrisca sua vida para salvar Nancy, uma menina de 11 anos vítima de um maníaco sexual. No entanto, o pedófilo era filho de um influente senador; Hartigan tem, então, sua vida arruinada e seu único refúgio é Nancy, a qual ele terá de reencontrar depois de passar 8 anos na cadeia.

"Sin City" é o típico filme que já nasce um clássico. Ele possui todos os elementos capazes de torná-lo o melhor filme de 2005 e certamente pode representar uma revolução na maneira como se narra uma história cinematográfica.
Rodrigues converteu uma obra-prima da literatura quadrinística numa obra-prima do cinema.