segunda-feira, março 05, 2007

Half Nelson (2006)


Não esperem reviravoltas e um grande enredo em "Half Nelson", pois simplesmente não há.
O filme é de uma lentidão memorável, com cenas intermináveis, repetitivas e, em casos, aparentemente sem propósito. Apesar disto, o cerne, a proposta da produção é excelente: o professor Dan Dunne (Ryan Gosling) leva uma vida dupla, durante o dia, é um dedicado professor de História e treinador do time de basquete da escola, porém, quando está fora do ambiente de trabalho (e, às vezes, escondido nele), ele se torna num usuário pesado de drogas, crente de que está no controle da situação, mas que se afunda cada vez mais no isolamento e desamparo. Um estranho vínculo se estabelece entre Dan e Drey, uma de suas alunas, quando esta o flagra fumando crack no banheiro da escola.
Desde este momento, Dan luta para manter em segredo seu vício, ao mesmo tempo em que tenta evitar que Drey, que mora numa área barra pesada, também se envolva com o mundo das drogas.
Em suas aulas, Dan defende a idéia de que há um dualismo no mundo, fundando em forças opostas, um motor dialético do universo. A trama de "Half Nelson" é uma extensão desta idéia, tanto na vida individual de Dan, dividido entre as forças opostas da sobriedade e do vício, quanto na relação dele com Drey, ele, branco, estudado, suburbano, ela, negra, pobre e cercada de más influências.
A atuação de Ryan Gosling é acima da média, porém, nada que mereça a indicação ao Oscar.
Uma obra que exige paciência...

quinta-feira, março 01, 2007

Vôo United 93 (2006)



É difícil saber se alguém que não está acostumado com a rotina dos aeroportos, com os atrasos, com as turbulências, com as panes em aviões, com aeroportos fechados, com o temor ao assistir uma notícia na TV sobre a queda de um avião, recebe este filme do mesmo modo com quem faz desta via crucis sua vida.
Eu, como marido de comissária de bordo, posso dizer, por experiência própria, que o filme "Vôo United 93" é angustiante, em todos os sentidos. O enredo não aborda nenhum dos três vôos que, pelo hábil plano e execução de terroristas, atingiram seus alvos - o World Trade Center e o Pentágono. O vôo 93 da United caiu antes, derrubado pelos próprios passageiros.
A edição é fenomenal, partindo dos primeiros instantes, quando a tripulação e os passageiros embarcam, até os momentos estarrecedores, quando o primeiro avião é sequestrado e pilotado em direção às Torres Gêmeas. Poucos filmes de ficção, nem com cobras, psicopatas, fendas temporais, turbulências, conseguem nos prender tanto quanto a tensão que a vida real, retratada nos mínimos detalhes e com uma precisão assustadora, possui. Só o fato de sabermos que aquilo aconteceu de fato já é suficiente para nos deixar de cabelos em pé, atemorizados com a crueldade humana, ao mesmo tempo em que empolgados com um último ato de valentia.
Se os passageiros do United 93 já se tornaram heróis por evitarem que o avião fosse derrubado sobre a Casa Branca ou o Capitólio, imaginem se eles houvessem conseguido subjugar os terroristas e pousado aquele avião!
O realismo do filme também nos faz questionarmos os limites entre realidade e ficção. O filme é tão minucioso que não sabemos se se trata de uma reconstituição dos eventos do dia 11 de setembro ou se é uma ficção, inspirada em fatos reais. "Vôo United 93" é um documentário ou ficção?
Claro que a pergunta é ridícula, pois o filme possui atores, um cenário construído, tudo nele é uma símile da realidade, não a própria realidade. Mas o que nos faz crer que seja real não passa a ser real por isto?
O filme era peixe pequeno diante de seus concorrentes no Oscar; o diretor Paul Greengrass não está à altura de Scorcese ou Clint Eastwood, mas sua obra é magistral. Ela atinge seu objetivo com uma pontaria certeira, assombra-nos, aterroriza-nos, prende-nos na cadeira, faz-nos torcer, mesmo sabendo do fim inevitável.
O medo, a preocupação que temos por aqueles que amamos é algo que transcende aviões e aeroportos e, talvez por isto, a mensagem de "Vôo United 93" seja para todos. Valorize hoje a pessoa que você ama! Esta frase, que bem poderia estar num livro do Paulo Coelho, é o mais importante que se pode extrair deste filme, pois as lições de sofrimento dos outros deveria ser um estímulo para que sejamos felizes hoje.