sexta-feira, agosto 18, 2006

Disque M para Matar (1954)




“Toda trama de mistério deve começar com um assassinato”.
Este é o mote do Gotham’s Writers Workshop, uma das mais reconhecidas escolas de escrita dos EUA.
Felizmente, Hitchcock não é tão previsível. Desde a escolha do roteiro, a fotografia, o elenco e a edição final, o trabalho deste mestre do suspense é impecável e, o mais crucial, imprevisível.
Em “Disque M para matar” não assistimos a um assassinato como todo manual de mistério sugere; pelo contrário, vemos um suposto feliz casal e um famoso escritor de romances policiais desembarcando em Londres. Tudo na mais trivial normalidade, quando descobrimos que Margot Wendice (Grace Kelly) teve um caso com Mark Halliday (Robert Cummings), mas que não haveriam de mantê-lo, pois Margot se arrependeu, Tony Wendice (Cary Grant Ray Milland), seu marido, havia mudado e ela tentaria ser feliz com ele.
“Disque M para matar” não começa com um assassinato, mas sim com o planejamento de um. Tony sempre soube do caso de sua esposa com o escritor; durante um ano, imaginou todas as maneiras possíveis de se vingar e, agora, ele tinha um plano e um álibi perfeito. Com a ajuda de um antigo colega de escola, ele explana como o assassinato de sua esposa deverá se suceder, tudo nos mínimos detalhes; perfeito, com a precisão de um relógio suíço.
Mas como o próprio escritor de mistério revela, durante uma conversa, crime perfeito só existe na literatura. O plano de Tony Wendice tem tudo para dar errado...
Subvertendo todos os princípios de um filme de suspense, Hitchcock demonstra que as regras não estão aí para serem idolatradas cegamente; ele revela que para o homem de gênio, sempre há uma alternativa original e surpreendente para realizar algo, não basta ser um cordeirinho pastando confortavelmente em meio ao rebanho. Não foi seguindo a manada que Hitchcock se tornou o mestre do suspense: foi ousando e rompendo os limites, características em extinção no cinema contemporâneo.
Quando grande parte das produções do cinema parecem querer insinuar que não há mais o que ser feito, que as regras devem ser sempre seguidas para obter um resultado satisfatório, os filmes clássicos dos grandes mestres nos provam o contrário, que é possível sim transcender o lugar-comum, fazer algo melhor, contar uma boa história e sem precisar de grandes recursos técnicos ou orçamentos multimilionários.
“Disque M para matar” não está na lista dos mais cultuados filmes de Hitchcock, mas certamente é diversão e tensão garantidas para quem gosta de uma boa história policial.