sábado, junho 30, 2007

Dreamgirls - Em Busca de um Sonho (2006)



Este filme ficou na minha estante de TV quase um mês, esperando para ser assistido. Hoje, arrependo-me por não tê-lo visto antes.

Odeio musicais; para mim, nada pior do que, quando a história está esquentando e você acha que vai acontecer algo interessante, a mocinha, ou o mocinho, ou o bandido abrem um bocão e começam a cantar. Brochante!

Mas gostei de "Moulin Rouge", e "Dançando no Escuro" até que não é nada mal. Talvez até consiga abrir algumas exceções (uma dúzia, quem sabe, incluindo "Noviça Rebelde"), mas, no geral, musical é um saco.

Porém, contudo, todavia... "Dreamgirls" é um dos filmes mais empolgantes que assisti nos últimos tempos. A trilha sonora é de primeira e, quem gosta de um bom R&B, soul, blues, gospel, se sente nas nuvens. Graças às vozes magníficas de Beyoncé Knowles e a atriz revelação Jennifer Hudson.

A trama se inspira na história real das Supremes, das quais só conhecemos de fato Diana Ross, que foi quem se deu melhor.
Como quase todo filme do gênero, que abarca um grande espaço de tempo, durante um dos períodos musicais mais produtivos do século XX - entre as décadas de 60 e 80 -, o enredo é de ascensão e queda. Ambição, superação pessoal, luta de egos, traição, abuso de drogas, decadência, todas estas palavras andam juntas quando se trata do universo da fama e da Arte.

Possivelmente, um dos grandes injustiçados na festa do Oscar de 2007, mas também não dá para negar que o páreo havia sido duro.

Indicado para quem gosta de musicais e para os que não gostam também, mas, principalmente, para todos que se divertem com um bom filme.

Pós-escrito de 3 de julho de 2007

Ao pesquisar um pouco sobre o musical da Broadway, que inspirou a versão cinematográfica, encontrei a apresentação do elenco original na premiação do Tony, que agracia os melhores musicais do ano. Se compararmos a performance de Jennifer Holliday, em 1982, com a de Jennifer Hudson, no filme, veremos a disparidade entre as duas, o que não tira o mérito de Hudson, mas apenas ressalta a qualidade de Holliday. Uma cena comovente e poderosa!


Bloom (2003)

Ninguém disse que adaptar o clássico de James Joyce, "Ulisses", para o cinema seria uma tarefa fácil.

A primeira das dificuldades é o próprio caráter narrativo da obra literária. "Ulisses" se passa na mente dos personagens, durante um dia inteiro em Dublin. Como é que se mostra, em imagens no cinema, aquilo que se passa na cabeça, através de palavras, de pessoas?

A opção que o filme "Bloom", dirigido por Sean Walsh, escolhe não é das melhores; em boa parte das cenas, os monólogos interiores do livro são transcritos para a tela. Vemos, então, o protagonista Bloom (Stephen Rea) narrando, enquanto que a câmera focaliza as expressões do ator. Ou seja, longas narrações, sem nenhuma ação. Um convite ao enfado.

A segunda das dificuldades é a visão estética de James Joyce. A obra do mestre irlandês é uma desconstrução de vários gêneros, de vários pontos de vista, da própria escrita. Como retratar num filme a mudança da língua inglesa, desde um arcaísmo até a modernidade, como ocorre num dos capítulos do livro?
Novamente, o cinema é obrigado a se encolher diante da adaptação. Ao invés do vanguardismo joyceano, a adaptação se mantém fiel ao enredo, recortando monólogos, tornando em imagens cenas antológicas - como a discussão no pub com o "ciclope", ou a alucinação de Bloom no prostíbulo, ou a cena final de Molly Bloom, na qual ela se recorda de seus amores -, colaborando com a mentalidade de que "Ulisses" é um livro difícil, hermético, intelectualizado.

O filme ainda não foi distribuído no Brasil, apesar de os direitos já terem sido adquiridos. Ao contrário da obra literária, a adaptação para o cinema não é memorável, nem um clássico. Entra na safra de adaptações sôfregas, que lutam com a complexidade do texto que lhes deu origem, que, apesar do esforço hercúleo para reconstruir o sentido, acabam por fracassar.

No entanto, para muitos, será o mais perto que chegarão da obra de Joyce.

terça-feira, junho 19, 2007

Norbit (2007)



Apesar da Globalização, de todos os elementos da cultura norte-americana à qual estamos expostos (voluntária e involuntariamente), de tudo nos parecer naturalizado, há algumas coisas sobre os filmes que só entendemos quando vemos com os próprios olhos.
Então, descobrimos que o mundo não é tão homogêneo como tudo parece indicar.

Filmes de comédia e de terror costumam apresentar as diferenças culturais mais gritantes: como no caso dum grupo de amigos que vai para um acampamento e são mortos por um psicopata pelo simples fato de terem transado; no Brasil, tem adolescente com 12 anos grávida, se todo psicopata fosse assassinar quem tem relações sexuais precocemente, seria praticamente um genocídio.
Isto apenas para apresentar um caso.

Mas "Norbit" entra naquele tipo de comédia pastelão, tirando sarro das diferenças culturais e comportamentais dos negros norte-americanos, na mesma linha de "Vovó...Zona" e "O Professor Aloprado".
Norbit (Eddie Murphy) é um rapaz franzino que, por ironia do destino, se casa com Rasputia (Eddie Murphy).
Rasputia está com sobrepeso, isto sendo gentil, é rude, truculenta, cheia de si e irmã de três rapazes da pesada. Sua natureza autoritária torna Norbit um submisso, até que ele a flagra na cama com outro homem.
Mas a chegada de Kate (Thandie Newton), uma namoradinha de infância de Norbit, é uma luz no fim do túnel para ele.
As sandices que Rasputia fará para evitar que seu casamento acabe é o mais engraçado neste filme.

Figuras como Rasputia inexistem no Brasil, no entanto, elas se proliferam nos EUA. Há Rasputia em toda esquina, no metrô, no supermercado. Isto torna a experiência de assistir a Norbit duplamente engraçada: primeiro, pelas próprias cenas mórbidas, segundo, por ser fácil identificar o alvo da piada.
Quando assistimos a "A Grande Família", por exemplo, não rimos porque aquela realidade é absurda, rimos porque aquele é nosso cotidiano; o mesmo vale para "Norbit" e o público norte-americano. Talvez este desentranhamento torne o filme menos interessante para o espectador brasileiro, mas a capacidade camaleônica de Eddie Murphy já vale a pena.

Em "Norbit", o cômico não é a caricaturização do real, mas a absurda relação entre a ficção e os personagens do cotidiano.