domingo, dezembro 23, 2007

Hairspray - Em Busca da Fama (2007)


Sempre houve uma troca entre Hollywood e a Broadway, musicais que se tornaram filmes, como "Dreamgirls", "Chicago", "Rent", ou filmes que se tornaram musicais, como "A Cor Púrpura", "Jovem Frankenstein", "Mary Poppins".

"Hairspray" é sui generis, primeiro foi lançado como filme, sob direção do porra-louca John Waters, tornou-se um musical de sucesso para, por fim, deixar o palco de volta ao cinema. A adaptação é boa, as canções são cativantes e o elenco é de primeira, desde a estreante, Nikki Blonsky, até John Travolta, Cristopher Walken e Michelle Pfeifer.

Mesmo neste remake, há a cara de John Waters. O fato de ser ambientado em Baltimore e a escolha dum homem travestido de mulher para o papel materno

A trama parece ser despretensiosa, Tracy Turnblad quer se tornar dançarina dum programa de TV, porém, como ela está um pouco acima do peso, imediatamente ela é descartada, por pura discriminação. Da discriminação estética, "Hairspray" avança para discriminação racial, abordando temas como tolerãncia, respeito às diferenças e igualdade.

Os EUA é um país racista, onde a integração foi e ainda é complicada, e por isto, a todo instante, através do cinema, é preciso repetir tais mensagens. O interessante é que, geralmente, Hollywood consegue ultrapassar o nível dum mero panfleto humanitário e produzir filmes divertidos e envolventes.

A trilha sonora é gostosa, com canções em estilo anos 50, mas não há nenhuma música específica que fique na memória.

"Hairspray" é um filme engraçado e que talvez até faça o espectador refletir.

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Pós-escrito de 26 de novembro
Após ter assistido ao musical da Broadway, devo me retrarar pelo meu comentário de que não há nenhuma música marcante: há meses que "Good morning, Baltimore", "You can't stop the beat" e "Welcome to the sixties" não saem da minha cabeça.
A versão da Broadway é um pouco diferente, principalmente por causa das exigências e limitações do palco, no entanto, ainda é melhor do que o filme.

terça-feira, dezembro 11, 2007

Ninguém Pode Saber (2004)


A razão de ser do título é óbvia: uma mãe solteira tem quatro filhos, mas por medo de ser expulsa pelos locadores do apartamento que acabou de se mudar, ela se vê forçada a esconder três das crianças, deixando apresentando apenas o mais velho como seu filho. Ninguém pode saber que 5 pessoas habitam aquele pequeno apartamento.
No entanto, esta mãe não pode ser considerada como um exemplo de dedicação. Durante longas horas, talvez a maior parte do dia, as crianças são obrigadas a permanecer trancadas em casa, realizando tarefas domésticas.
Se este cenário já não fosse opressivo e angustiante o bastante, a mãe arranja um novo namorado e desaparece com ele por meses, deixando as crianças sozinhas, à própria mercê.

Apesar de responsáveis, o desfecho é quase inevitável: a total desintegração da família.

No entanto, "Ninguém Pode Saber" choca apenas pelo fato de ser um filme japonês, ideal de civilidade e avanço. Se transportarmos o tema para um contexto brasileiro, imediatamente constatamos o contraste que há entre um mundo onde histórias como esta são exceções, e um mundo onde é quase um regra, onde crianças vagam pelas ruas mendigando comida e cheirando cola. "Ninguém Pode Saber" é pessismista e desconsolador - foi inspirado numa história real -, mas nem se aproxima ao terror cotidiano de países em desenvolvimento.

Assistir a este filme é quase um desafio. O ritmo é lento, as cenas são longas, há excessos, há silêncio. Todas as expectativas são frustradas, nada e tudo ocorre ao mesmo tempo; na ausência, as lacunas se preenchem e se anulam.

Um filme constrangedor.

Lady Vingança (2005)


Depois de assistir a "Old Boy", virei fã do diretor Chan Wook Park; quando um cara é fera, é preciso dar o braço a torcer.
Park parece ter recebido influência de Hollywood, por isto seu fascínio por cenas de ação e um senso nato para realização de magníficos planos-seqüências. No entanto, ele é genial o bastante para se inspirar nas qualidades, e não nos vícios. E o grande vício do cinema americano atualmente são os roteiros fracos.

As tramas de Park estão bem longe de serem fracas ou superficiais, tudo nos filmes dele é até as últimas conseqüências, é um mergulho no absurdo e no visceral; após haverem tomado uma resolução, os personagens de Chan Wook Park vão até o fim.

"Lady Vingança" é o terceiro filme da "trilogia da Vingança", que começa com "Mr. Vingança" e continua em "Old Boy". Os enredos são independentes, porém o espírito que perpassa os dois últimos, que foram os que assisti até o momento, é o mesmo: personagens injustiçados que resolvem tomar a justiça em suas mãos e se vingar de quem os fez mal.

No caso de Lady Vingança, Geum-Ja passa 13 anos na cadeia acusada de ter assassinado uma criança durante um seqüestro. Neste período, ela prepara o modo como se vingará do sujeito que a obrigou a assumir a culpa pelo crime.
O filme é repleto de flashbacks, alternando entre o momento atual, quando Geum-Ja foi libertada da cadeia, e recortes do período na prisão, quando ela angariou a amizade das detentas que a ajudarão na vingança.

O panorama apresentado por Park é brutal, onde a violência é banal e corriqueira; temos diante de nós o animal homem em sua plenitude, buscando paga à base do "olho por olho, dente por dente"
O ritmo de "Lady Vingança" não é tão dinâmico e envolvente como o de "Old Boy", mas mesmo assim torcemos (e nos desesperamos) para que Geum-Ja alcance seu objetivo. E quando menos esperamos, ao sermos levados a acreditar que o filme está acabando, tudo se modifica e uma nova etapa da vingança, surpreendente e ainda mais brutal, se manifesta.

"Lady Vingança" é um filme brilhante, complexo e coroa a genialidade de Chan Wook Park.