sábado, fevereiro 25, 2012

Sherlock Holmes (2009)


Para qualquer um habituado aos livros de Arthur Conan Doyle, o criador do legendário personagem Sherlock Holmes, esta adaptação mais recente para o cinema é uma aberração.

Um personagem reconhecido por sua capacidade dedutiva, por sua astúcia e frieza de raciocínio se converteu num desajustado violento e que não possui nenhum tipo de empatia, quase um Wolverine vitoriano.

No fundo, tanto fazia se os protagonistas se chamassem detetive Arthur e doutor William, já que até o próprio doutor Watson, companheiro inseparável de Holmes, se tornou irreconhecível nesta adaptação, de um sujeito cauteloso e até um pouco titubeante, Watson agora é um lutador impecável e destemido, ou seja, quase o oposto do personagem original.

Quem assiste ao "Sherlock Holmes" dirigido por Guy Ritchie está vendo qualquer coisa além do que concebeu Conan Doyle, o que se pode perceber logo na primeira cena do filme, e isto é ruim e bom ao mesmo tempo.

A trama beira o sobrenatural, com Lord Blackwood, um assassino satanista temido por todos os londrinos, como o grande vilão. Holmes (Robert Downey Jr.) e Watson (Jude Law) são quem primeiro conseguem prendê-lo, evitando assim mais uma morte e Lord Blackwood acaba na forca.
O mistério realmente se acentua quando Blackwood volta dos mortos, decidido a dominar o mundo. Obviamente que resta a Holmes e a seu colega desvendarem o que pode ter ocorrido e encontrarem uma solução lógica para este enigma, com um enredo todo recheado de cenas de ação, lutas, tiroteios e explosões, numa estratégia típica do século XXI para atrair o público.

O filme é muito divertido e com reviravoltas curiosas, bastante ao estilo habitual de Guy Ritchie, mas o que incomoda é a distorção de um personagem clássico, mundialmente conhecido e reconhecido, e desintegrá-lo.
Será que o personagem original não seria interessante o bastante para protagonizar um filme para o público de hoje, sem a necessidade de acrobacias fenomenais, cenas de pugilato e outras pirotecnias?

Li pela primeira vez os livros de Sherlock Holmes quando tinhas uns 15 anos e lembro-me que fiquei deslumbrado com aquele personagem brilhante, que não necessitava da força bruta para solucionar os maiores problemas de sua época.
Não seria uma mensagem igualmente eficaz hoje, ao invés de um sujeito que resolve tudo na porrada, com os músculos superando o cérebro?
Ou se tornou impossível um filme que faça jus aos romances de mistério dedutivo, quando uma mente extraordinária é capaz de resolver crimes sem disparar um tiro sequer, nem dar uma voadora na cara do bandido?

sexta-feira, fevereiro 10, 2012

O Tesouro de Sierra Madre (1948)


John Huston foi os um dos maiores diretores que já passou por Hollywood e trouxe para as telonas do cinema alguns clássicos como "O Falcão Maltês", "Moby Dick", "Os Desajustados" e "o Homem que queria ser rei".

"O Tesouro de Sierra Madre" é um destes clássicos, que merecia ser assistido por qualquer um que aprecia um bom filme; é quase uma obrigação.

Esta é a história de três homens em busca de riqueza no México, Dobbs (interpretado magistralmente por Humphrey Bogart), Curtin e Howard (papel dado ao pai do diretor, Walter Huston), que é o mais velho do três e o único com experiência de mineração de ouro.
Os três empreendem uma viagem por um terristório inóspito até Sierra Madre, uma montanha que esconde em seu seio uma fortuna em ouro.

Acima de tudo, "O Tesouro de Sierra Madre" é sobre ganância e a horrível natureza humana. A princípio, estimulados pela possibilidade de se tornarem homens ricos, os três amigos se comportam normalmente, com solidariedade até. No entanto, aos poucos, enquanto começam a acumular seus sacos de ouro, a relação se deteriora, um suspeitando do outro até o limite do insustentável.

Quem se habituou à imagem do detetive durão de "O Falcão Maltês" ou do elegante Rick de "Casablanca", irá se surpreender com a incrível atuação de Borgart em "O Tesouro de Sierra Madre".
Um roteiro inteligente, com uma bela fotografia e profundos diálogos, fazem deste filme um dos grandes exemplos de uma narração que tem desaparecido, capaz de mergulhar na escuridão mais secreta da alma humana e revelar como nós mesmo somos.

"O Tesouro de Sierra Madre" é sobre nós, sobre a fragilidade da nossa moral e como as riquezas são capazes de corromper-nos, mas também é sobre a mão brincalhona do destino, sempre a virar nossas vidas de cabeça para baixo, de maneira imprevisível e surpreendente.