terça-feira, janeiro 24, 2012

Harakiri (1962)


No Japão feudal, durante o shogunato dos Tokugawa em 1630, o ronin Hanshiro Tsugumo apresenta-se diante de um senhor, procurando um local apropriado para cometer seppuku, o ritual samurai de suicídio mais conhecido como harakiri no Ocidente.

Antes de tudo, "Harakiri" é um filme sobre a perda da honra. Através de vários flashbacks, primeiro de um harakiri realizado por um outro samurai, Motome Chijiiwa, depois quando Tsugumo conta sua própria história de miséria, acompanhamos uma crise da classe dos samurais quando o Japão foi pacificado, e muitos guerreiros acabaram se tornando ronins, vagando pelo país, sem senhor e sem sustento.

A primeira cena de seppuku, de Chijiiwa, é simplesmente impressionante, pois, por causa de sua pobreza, ele havia vendido suas espadas, consideradas a alma de um samurai, e subsituído-as por outras de bambu. O senhor do palácio, sabendo que muitos ronins batiam de porta em porta dos senhores, pedindo um local para realizarem seppuku, mas, no fundo, apenas esperando que alguém lhes dessem alguns trocados, resolve fazer o caso de Chijiiwa um exemplo, e obriga-o a se matar com sua espada de bambu.

Este mesmo senhor pensa que Tsugumo também é um destes ronins sem honra e sem verdadeira intenção de se matar, contando-lhe a história de Chijiiwa para tentar dissuadi-lo. No entanto, Tsugumo tem suas convicções e, como saberemos posteriormente, ele tem uma razão muito específica para cometer seppuku no interior daquele palácio.

A história de "Harakiri" é brilhante, que me fez recordar "Ladrões de Bicicleta" de Vittorio de Sicca. Tanto no filme japonês quanto naquele italiano, vislumbramos quão baixo um ser humano pode cair, e como neste desamparo estão dispostos a fazer qualquer coisa. Contudo, é também uma catártica trama de vingança e, eu lhe garanto, sentimo-nos vingados com o ato de Tsugumo!

A fotografia e a iluminação são perfeitas, às vezes até trazendo à mente a do teatro japonês, e os planos-sequências são uma competência que raras vezes se vê em nossos dias.

Posso dizer, sem hesitação, que foi o melhor filme de samurais que já assisti, daqueles que lhe prende na cadeira desde o primeiro segundo, e que continua reverberando em sua mente muitas horas depois.

Nenhum comentário: