domingo, janeiro 13, 2013

Django Livre (2012)


É difícil ser original quando se trata de faroestes, aliás, arrisco-me a dizer que é quase impossível.
Porém, as pretensões de Tarantino nunca foram a de ser original, como ele mesmo já afirmou claramente durante sua carreira. Os filmes de Tarantino são recortes, uma coleção de cenas, histórias e contextos que ele, como cinéfilo inveterado, admira no cinema.

Tarantino suga indiscriminadamente de todas as fontes, dos filmes mais cults aos mais blockbusters, pois, para ele, qualquer bom filme pode ser uma inspiração. No entanto, se este diretor fosse um mero parasita, simplesmente copiando, ou parodiando, filmes alheios, ele não teria conquistado o reconhecimento merecido. Tarantino digere e regurgita tudo dentro de sua violenta e brutal visão de mundo. Para Tarantino, viver é sobreviver, e sobreviver implica em livrar-se de todos aqueles que se interpõem no caminho, libertando-se de todas as amarras, como Django (Jamie Foxx), um ex-escravo que se torna caçador de recompensas.

Podemos dizer que tudo levou Tarantino a este filme. Sem dúvida, ele é um grande apreciador do gênero faroeste, como quase todos seus filmes anteriores apontam. Assim como Kurosawa, que transplantou a dinâmica dos western para os samurais do Japão Feudal, Tarantino deu um jeito de tornar muitos de seus filmes num faroeste travestido. Estes são os casos de Kill Bill, de Bastardos Inglórios e, em menor escala, À Prova de Morte.
Os faroestes possuem uma linguagem muito particular e característica. Geralmente, há um protagonista heróico de moral duvidosa, pois, no Oeste selvagem, não há espaço para fracos. Matar ou morrer depende de ser mais rápido e de não hesitar. Há vilões terríveis, por isto, o mocinho precisa também ser implacável.
Tarantino se apropria deste gênero com maestria e ele prefere não inovar, talvez excetuando pelo estranho personagem Doutor King Schultz (Christoph Waltz, uma cara que se tornou conhecida internacionalmente depois de ter aparecido como o oficial da Gestapo em Bastardos Inglórios e levado um Óscar de melhor ator coadjuvante por este papel). Não é sempre que vemos um caçador de recompensas alemão num filme de bang-bang, muito menos um personagem que traga uma nova perspectiva sobre temas tão cruciais quanto o escravagismo.
Dr. Schultz é a visão externa sobre uma situação que muitos nem se dão conta. Para ele, a escravidão é uma abominação, sensação que se acentua no decorrer do filme. É ele quem compra e depois liberta Django. É ele quem descobre o incrível talento de Django com armas de foto e convida-o para ser seu parceiro. É ele quem decide ajudar Django a resgatar sua esposa, uma escrava chamada Brunhilda e que aprendeu alemão para conversar com sua "sinhá".

"Django Livre" é um filme para os fãs de faroeste, disto não tenho dúvida. No entanto, antes de tudo, é também para aqueles que reconhecem o incrível trabalho de Tarantino em revitalizar gêneros e enredos, em revelar como até o divertimento mais banal pode possuir uma enorme carga dramática e - por que não? - também nos levar a ponderar sobre a inata brutalidade humana.
Com trilha sonora de Enio Morriconi, um dos maiores compositores italianos e cujo trabalho está presente em vários spaghetti westerns, "Django Livre" é diversão garantida, com muitos tiroteios, sangue e extraordinários diálogos.


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