sexta-feira, janeiro 18, 2013

A Hora Mais Escura (2012)


No mundo ideal dos norte-americanos, o bandido morre no final. É a máxima "olho por olho, dente por dente" aplicado ao pé da letra, somente a vingança apaga o ultraje feito.

Veja qualquer filme policial, faroeste ou de ação. Raramente o vilão é preso, julgado e condenado. Na maioria esmagadora dos casos, o criminoso é executado pelos mocinhos, ou acaba morrendo tentando fugir. Somente a morte apaga o crime, somente a execução é a justa medida da compensação.

O maior atentado terrorista em solo americano, o terrível ataque de 11 de setembro de 2001, expôs para os EUA e para o resto do mundo a fragilidade de um sistema e, principalmente, de uma mentalidade. A América conquistou a hegemonia econômica, política e militar durante o século XX, e criou muitos inimigos neste percurso, inclusive, convertendo aliados em antagonistas.

Osama Bin Laden foi um dos líderes treinados pela CIA, o serviço secreto americano, para ajudar os EUA numa guerra desigual contra a União Soviética, que invadia com seus tanques e helicópteros o árido e inóspito Afeganistão. No jogo da Guerra Fria, tanto os EUA quanto a URSS utilizavam países e governos aliados como peças num jogo de xadrez, sacrificando-os como se fossem peões na linha de frente.
Uma vez concluído um dos conflitos, como ocorreu na Coréia, no Vietnã, ou no Afeganistão, as duas potências abandonavam o palco da guerra, deixando toda a devastação e miséria para trás, sem consideração alguma por aqueles que um dia ajudaram-nos a defendem seus interesses imperialistas.

Bin Laden foi a cobra que picou a mão que a alimentou, mas, principalmente, a mão que abandonou os afegãos à própria sorte. Na mentalidade dos fundamentalistas islâmicos, e principalmente da Al Qaeda, a organização terrorista encabeçada por Bin Laden, todos os atos terroristas perpetrados contra os EUA e seus aliados são retaliações, são ações de vingança contra uma nação que não possui respeito algum pelo resto do mundo.

O terrorismo é a forma de guerra mais eficaz no século XXI, pois um homem-bomba pode gerar pânico num país inteiro. Contra indivíduos fanáticos, dispostos a tirar a própria vida por um ideal, não há exército capaz de derrotá-los. Morre um, e vinte se erguem para substituí-los. E esta é uma lógica que os EUA ainda não compreendeu.

Mas esta não é a história de "A Hora Mais Escura", dirigido por Kathryn Bigelow, a mesma por detrás de "Guerra ao Terror", um filme marcado por seu realismo sobre o cotidiano de tropas americanas no Oriente Médio.
Em "A Hora Mais Escura", acompanhamos o trabalho de uma agente da CIA no Paquistão, obcecada em rastrear e "capturar" Bin Laden. Entendamos esta "captura" como execução, o bom fim de todo bandido perigoso.

É difícil compreender a mensagem deste filme, onde exatamente ele quer nos levar. Para honrar e preservar a dignidade e a vida dos americanos, estes estão dispostos a torturar, humilhar e matar qualquer um que esteja em seu caminho. Inclusive, a tortura parece ser uma instituição nos interrogatórios da CIA no exterior, como sugere "A Hora Mais Escura". Não há um único membro da Al Qaeda que não seja, ou não tenha sido, torturado ao longo do filme e isto é um sintoma que, na luta contra o Terror, existem terroristas nos dois lados desta história. Um exemplo clássico do "mocinho" que se perde em sua trilha por vingança. Mesmo que nem possamos falar em mocinhos neste caso, pois tanto os EUA quanto os terroristas tem suas doses de crimes hediondos nas costas.

Conhecemos parte, ou boa parte, de como foi a operação de execução de Bin Laden. Os americanos descobriram seu paradeiro no Paquistão ao investigarem seu mensageiro pessoal, depois, bastou enviar uma tropa de elite para invadir o complexo e matar todos aqueles que reagissem, ou que esboçassem alguma reação, incluindo o próprio Bin Laden.
O que não sabíamos era toda a trajetória de investigação, a corrida frenética por pistas e evidências, para encontrarem o "homem mais perigoso do mundo".

Osama Bin Laden está morto, o vilão morreu no final. No entanto, quantos o substituirão, quantos não serão aqueles que se prontificação a se matarem para vingar o assassinato do líder?

Talvez a "Hora Mais Escura" não seja o final, mas apenas um novo começo, ou apenas mais um capítulo horroroso desta guerra suja e sem trégua.


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