sábado, junho 30, 2007

Bloom (2003)

Ninguém disse que adaptar o clássico de James Joyce, "Ulisses", para o cinema seria uma tarefa fácil.

A primeira das dificuldades é o próprio caráter narrativo da obra literária. "Ulisses" se passa na mente dos personagens, durante um dia inteiro em Dublin. Como é que se mostra, em imagens no cinema, aquilo que se passa na cabeça, através de palavras, de pessoas?

A opção que o filme "Bloom", dirigido por Sean Walsh, escolhe não é das melhores; em boa parte das cenas, os monólogos interiores do livro são transcritos para a tela. Vemos, então, o protagonista Bloom (Stephen Rea) narrando, enquanto que a câmera focaliza as expressões do ator. Ou seja, longas narrações, sem nenhuma ação. Um convite ao enfado.

A segunda das dificuldades é a visão estética de James Joyce. A obra do mestre irlandês é uma desconstrução de vários gêneros, de vários pontos de vista, da própria escrita. Como retratar num filme a mudança da língua inglesa, desde um arcaísmo até a modernidade, como ocorre num dos capítulos do livro?
Novamente, o cinema é obrigado a se encolher diante da adaptação. Ao invés do vanguardismo joyceano, a adaptação se mantém fiel ao enredo, recortando monólogos, tornando em imagens cenas antológicas - como a discussão no pub com o "ciclope", ou a alucinação de Bloom no prostíbulo, ou a cena final de Molly Bloom, na qual ela se recorda de seus amores -, colaborando com a mentalidade de que "Ulisses" é um livro difícil, hermético, intelectualizado.

O filme ainda não foi distribuído no Brasil, apesar de os direitos já terem sido adquiridos. Ao contrário da obra literária, a adaptação para o cinema não é memorável, nem um clássico. Entra na safra de adaptações sôfregas, que lutam com a complexidade do texto que lhes deu origem, que, apesar do esforço hercúleo para reconstruir o sentido, acabam por fracassar.

No entanto, para muitos, será o mais perto que chegarão da obra de Joyce.

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