quinta-feira, maio 17, 2007

Mais Estranho que a Ficção (2006)



Dizer que Hollywood passa por um período negro não é novidade alguma.

Há uma crise criativa incrível no cinema comercial norte-americano. Parece que o medo de rejeição dominou completamente os roteiristas e, para evitarem o fim amargo dos que ousam, tudo que se produz hoje em dia tem uma cara insossa de enlatados. Filmes saídos direto da linha de montagem. O festival de clichês que se acumulou nas últimas cinco dédacas faz com que quase qualquer filme, drama ou comédia, seja previsível. Espantamo-nos quando podemos dizer:

- Nossa, que filme diferente!

O advento de Charlie Kaufman, com seu "Quero Ser John Malkovich", foi um sopro de inovação em meio ao desgastado paradigma dos filmes americanos. Num misto de realismo mágico e absurdo kafkiano, Kaufman apresentou a luz no fim do túnel: é possível ser criativo e, mesmo assim, comercial.

No melhor estilo kaufmanesco, surge "Mais Estranho que a Ficção", dirigido por Marc Foster e roteiro de Zach Helm. Um filme inovador, mas sem jogar a criança com a água do banho. Aproveita o que há de melhor no paradigma tradicional da escrita de roteiros -- apresentação, ponto de virada, desenvolvimento, ponto de virada II, desfecho --, mas com uma temática diferente e metalingüística.

Harold Crick, interpretado por Will Ferrel, o queridinho cômico do momento, é um auditor da Receira Federal. Num dia convencional, ele começa a ouvir uma voz, narrando tudo que ele faz. Primeiro, ele pensa estar louco, mas logo percebe que esta sugestão não é satisfatória. Crendo-se ser um personagem numa história literária, ele procura a ajuda do professor de Literatura Jules Hilbert (Dustin Hoffman), para descobrir quem é e em qual história está.

O desenvolvimento é brilhante. Esperamos o tempo todo por aquele deslize que derrubará o enredo e transformará este filme em mais uma daquelas comédias simplórias. Mas não; "Mais Estranho que a Ficção" se sustenta, do começo ao fim, sem dar respostas fáceis, sem abrir mão da sua ludicidade, sem tentar nos enganar com clichês.

A prova de que arriscar não é um salto sem rede de segurança; de que é possível sim ser criativo, sem abrir mão do entrenenimento.

4 comentários:

Israel Campus disse...

Parabéns pela crítica!

Contine Assim.

Cel Bentin disse...

Parabéns; um olhar muito pertinente e claro sobre o filme. Me chamou atenção como o diretor e aquipe conseguiram traçar um diálogo´que vai além das palavras. Visitarei você, agora, mais vezes! Paz e bem pra ti

Deh Ruiz disse...

Muito boa sua crítica. Estou estudando esse filme para a faculdade. Pena que poucas pessoas vêem os significados por trás da comédia...

Reino Colorido da Criança disse...

Amei o filme. Procurei muito depois que vi o anuncio. Excelente.