sábado, outubro 27, 2007

300 (2007)

Não assista a "300" se você estiver em busca de fidelidade histórica. O filme baseado na HQ de Frank Miller não é uma reconstrução do que ocorreu durante a guerra entre gregos e persas.
As batalhas entre os exércitos de Xerxes e os povoados helênicos no século V a.C são consideradas como a a primeira demonstração do pensamento e valores ocidental: liberdade individual, honra, superioridade da razão sobre o irracional.
Durante a guerra, o exército muito superior dos persas foi desbaratado por oponentes em menor número, de cidades rivais, mas com um objetivo comum, manter a liberdade. "300" tangencia estas questões, está mais interessado no trabalho gráfico, na reprodução magnífica da linguagem quadrinística.
Aí reside o mérito de "Sin City", que abriu as portas para uma nova forma de expressão no cinema, além disto, erigindo Frank Miller ao status de patriarca desta nova concepção, graças a sua linguagem forte e traços duros.
O filme é estupendo visualmente, desde os cenários até as cenas de luta. O trabalho artístico realizado para simular o desenho de Miller é perfeito. Porém, o enredo é fraco.
Deixemos de lado as incongruências históricas, a total eliminação do papel dos atenienses e de Salamina para a derrota dos persas (aliás, a vitória naval em Salamina foi muito mais importante do que a derrota espartana em Termópilas) e da má construção dos personagens (Xerxes é o único que parece ter algum tipo de sentimento como medo).
"300" é um gênero de cinema que me agrada, bem feito e envolvente, mas algo me incomodou muito, especialmente durante a cena em que a esposa de Leonidas (Gerard Butler), o rei de Esparta que lidera os 300 guerreiros contra o exército de Xerxes (Rodrigo Santoro), fala diante do conselho. Ela suplica que eles enviem reforços para auxiliar o marido, porém, tendo em vista o contexto no qual o filme é lançado, parece ser mais uma mensagem de apoio à guerra do Iraque e, mais do que isto, de retaliação ao Irã (países situados onde era a antiga Pérsia). Posso estar fazendo como aqueles insanos que vêem teorias conspiratórias em tudo, mas quando mensagens explícitas de "precisamos enviar mais tropas para derrotar a tirania" se mesclam com a fala dum presidente belicoso, é porque não deve ser mera coincidência.
Se alguém mais percebeu isto, por favor me avise, para que eu tire esta pulga de detrás da orelha...

Um comentário:

Felipe Fornazier disse...

também notei a relação entre o discurso dela, com a campanha de aumento de tropas para o oriente médio, de uma forma muito sutil.