Pensei muito antes de assistir a "O Código Da Vinci".
A experiência com o livro foi frustrante. Graças a um defeito meu que me impede de ler livros que me entendiam, mal passei da metade da obra de Dan Brown.
Quando o filme foi lançado, uma curiosidade natural me impeliu a querer vê-lo, porém, ao folhear o roteiro ilustrado - lançado nas livrarias no mesmo dia em que o filme estreou -, tal desejo diminiu. A crítica feita por conhecidos, que preferiam a obra literária à cinematográfica, também influenciou na decisão em não assistir ao filme.
Todavia, assim como em "Harry Potter", senti-me na obrigação de ver para crer. Se já havia achado o livro ruim, o que pensaria do filme? Não seria este um dos raros casos em que a adaptação superaria o original? Não estaria eu partindo do pressuposto intelectualóide de que todo best seller é, por natureza, uma porcaria?
O EnredoA trama todo mundo - a não ser que seja habitante de outro planeta ou um completo alienado - conhece: um simbologista americano, Robert Langdon (Tom Hanks), é chamado pela polícia judiciária francesa para comparecer ao Louvre, local onde o curador do museu foi assassinado. Logo descobre que ele é o principal suspeito da polícia e, com a ajuda de uma criptologista da polícia e neta da vítima, Langdon tenta resolver um enigmático quebra-cabeça histórico.
A repercussão que a obra de Dan Brown teve no mundo, principalmente no âmbito teológico, também não é novidade para ninguém. Ao sustentar a hipótese de que Jesus foi casado com Maria Madalena e de que, deste matrimônio, resultou uma linhagem, Dan Brown arrebanhou fãs eufóricos - que percorrem os mesmos locais de Langdon em busca de sua investigação pessoal - e inimigos mortais - a Igreja, alguns historiadores, políticos bitolados, ácidos críticos literários.
Dan Brown não foi o criador desta idéia; deve muito a Henry Lincoln, jornalista da BBC, que primeiro elaborou a hipótese de que, durante o curso da História, existiu um grupo de guardiões da linhagem de Jesus e de que notórias figuras, como Sir Isaac Newton, Leonardo Da Vinci, Claude Debussy, foram grão-mestres desta misteriosa ordem secreta.
No entanto, apesar de dever a idéia a Lincoln, "O Código Da Vinci" não se trata de um plágio, pois, se assim fosse, qualquer obra de ficção que abordasse algum tema histórico e/ou teoria seria um plagiador. O livro/filme de Dan Brown não é nada original, mas também não é uma cópia.
Apenas uma ficçãoA repercussão que a obra de Dan Brown teve no mundo, principalmente no âmbito teológico, também não é novidade para ninguém. Ao sustentar a hipótese de que Jesus foi casado com Maria Madalena e de que, deste matrimônio, resultou uma linhagem, Dan Brown arrebanhou fãs eufóricos - que percorrem os mesmos locais de Langdon em busca de sua investigação pessoal - e inimigos mortais - a Igreja, alguns historiadores, políticos bitolados, ácidos críticos literários.
Dan Brown não foi o criador desta idéia; deve muito a Henry Lincoln, jornalista da BBC, que primeiro elaborou a hipótese de que, durante o curso da História, existiu um grupo de guardiões da linhagem de Jesus e de que notórias figuras, como Sir Isaac Newton, Leonardo Da Vinci, Claude Debussy, foram grão-mestres desta misteriosa ordem secreta.
No entanto, apesar de dever a idéia a Lincoln, "O Código Da Vinci" não se trata de um plágio, pois, se assim fosse, qualquer obra de ficção que abordasse algum tema histórico e/ou teoria seria um plagiador. O livro/filme de Dan Brown não é nada original, mas também não é uma cópia.
Os leitores ocasionais, os mesmos que se deslumbraram com a obra de Brown, possuem dificuldade em compreender a relação da ficção com a realidade.
Contudo, a comoção global que "O Código Da Vinci" causou demonstra que não apenas os leitores de fim de semana têm esta dificuldade, mas que até mesmo aqueles reputados como esclarecidos - teóricos, teólogos, apresentadores de TV.
A avalanche de livros e programas televisivos visando "decifrar", "quebrar", "desvendar", "analisar" o "Código Da Vinci" é a prova cabal de que as pessoas não sabem fazer tal diferenciação.
Ficção não é sinônimo de mentira, como geralmente se pensa. Uma obra de ficção é simplesmente aquela que é regida por regras próprias, independente da realidade.
O que isto quer dizer?
Numa obra de ficção, Jesus pode ser o filho de Deus, um camponês revolucionário, um profeta louco, casado, viúvo, ou qualquer outra coisa, desde que a estrutura da obra suporte esta idéia. Ela não precisa estar de acordo com a realidade dos fatos, já que ela é uma metarealidade.
Por isso, atacar uma obra ficcional elegando ser ela mentirosa é tão absurdo quanto defendê-la dizendo ser ela verdadeira.
Uma obra de ficção não é verdadeira nem falsa; o Jesus de Dan Brown é um personagem literário subtraído da história, mas não se trata do "verdadeiro" Jesus histórico.
Os responsáveis pelo devastador sucesso do livro são aqueles que não conseguem fazer esta distinção, entre eles o próprio Dan Brown.
Mas qual é o problema?Contudo, a comoção global que "O Código Da Vinci" causou demonstra que não apenas os leitores de fim de semana têm esta dificuldade, mas que até mesmo aqueles reputados como esclarecidos - teóricos, teólogos, apresentadores de TV.
A avalanche de livros e programas televisivos visando "decifrar", "quebrar", "desvendar", "analisar" o "Código Da Vinci" é a prova cabal de que as pessoas não sabem fazer tal diferenciação.
Ficção não é sinônimo de mentira, como geralmente se pensa. Uma obra de ficção é simplesmente aquela que é regida por regras próprias, independente da realidade.
O que isto quer dizer?
Numa obra de ficção, Jesus pode ser o filho de Deus, um camponês revolucionário, um profeta louco, casado, viúvo, ou qualquer outra coisa, desde que a estrutura da obra suporte esta idéia. Ela não precisa estar de acordo com a realidade dos fatos, já que ela é uma metarealidade.
Por isso, atacar uma obra ficcional elegando ser ela mentirosa é tão absurdo quanto defendê-la dizendo ser ela verdadeira.
Uma obra de ficção não é verdadeira nem falsa; o Jesus de Dan Brown é um personagem literário subtraído da história, mas não se trata do "verdadeiro" Jesus histórico.
Os responsáveis pelo devastador sucesso do livro são aqueles que não conseguem fazer esta distinção, entre eles o próprio Dan Brown.
Por outro lado, enfatiza-se que a revelação do "verdadeiro" estado civil de Jesus poderia abalar as estruturas da Igreja.
A Igreja Apostólica Romana passou por dificuldades muito maiores do que esta em sua trajetória e ainda está por aqui, claudicando, mas viva. Martinho Lutero causou mais estragos na estrutura clerical do que uma mera obra de ficção poderia fazer. Dan Brown, seus leitores e seus detratores estão supervalorizando o impacto que "O Código Da Vinci" pode causar na ortodoxia e não me espantaria se dentro de cinco ou dez anos ninguém mais se lembrasse deste furor todo.
Além disto, qual seria o problema se Jesus fosse realmente casado? Em que isto prejudicaria a fé dos milhões de cristãos? Será que se ele fosse eunuco também haveria esta mobilização estrondosa?
J. D. Crossan, renomado pesquisador da Bíblia, afirma que podemos obter poucas certezas sobre a vida de Jesus a partir das fontes que possuímos: Jesus era um galileu, viveu durante a administração romana, pregou para os pobres, foi crucificado e seu movimento perseverou após sua morte.
Apenas isto...
Todo o resto está sujeito a dúvida; todo o resto não passa de mera especulação; todo o resto é hipótese.
Méritos e defeitos do filmeA Igreja Apostólica Romana passou por dificuldades muito maiores do que esta em sua trajetória e ainda está por aqui, claudicando, mas viva. Martinho Lutero causou mais estragos na estrutura clerical do que uma mera obra de ficção poderia fazer. Dan Brown, seus leitores e seus detratores estão supervalorizando o impacto que "O Código Da Vinci" pode causar na ortodoxia e não me espantaria se dentro de cinco ou dez anos ninguém mais se lembrasse deste furor todo.
Além disto, qual seria o problema se Jesus fosse realmente casado? Em que isto prejudicaria a fé dos milhões de cristãos? Será que se ele fosse eunuco também haveria esta mobilização estrondosa?
J. D. Crossan, renomado pesquisador da Bíblia, afirma que podemos obter poucas certezas sobre a vida de Jesus a partir das fontes que possuímos: Jesus era um galileu, viveu durante a administração romana, pregou para os pobres, foi crucificado e seu movimento perseverou após sua morte.
Apenas isto...
Todo o resto está sujeito a dúvida; todo o resto não passa de mera especulação; todo o resto é hipótese.
"O Código Da Vinci" é um filme cansativo.
As divagações históricas e os flashbacks são interessantes, porém quebram o ritmo da trama e se tornam morosos.
Há aqueles que adoram conspirações, mas quando todos fazem parte desta conspiração, excetuando os protagonistas, a história fica inverossímil.
A teoria literária tende a dividir os personagens em duas categorias: os planos, que não possuem vontade própria e se movem sob força das circunstâncias; e os redondos, personagens completos, que possuem motivações individuais, que movem a história de acordo com suas características.
Um exemplo de personagem redondo no cinema é o Dr. Richard Kimble, de "O Fugitivo". A mudança em sua vida - o assassinato de sua esposa e sua posterior condenação pelo crime - é algo exterior a ele, porém, só isto. Depois deste momento, toda a história está nas mãos de Kimble, que determina o que e como fará. Ele move a história, ao invés de ser movido por ela.
Já os personagens de "Da Vinci", Landgon e Sophie Neveu (Audrey Tautou), não possuem vontade própria. As coisas acontecem a eles, o que os obrigam a agir. São arrastados pelas mãos inábeis do destino (também cognominado de Dan Brown) e não possuem personalidade. São criaturas estéreis, sempre aguardando pela próxima decisão do deus ex machina.
A implausabilidade de certas teorias só convencem os mais desavisados e, para os que ainda caem em tais esdrúxulas teorias conspiratórias, basta assistir a um dos documentários da Discovery Channel sobre o santo graal ou ver alguma das entrevistas de Umberto Eco sobre o assunto.
Os únicos méritos de "O Código Da Vinci" são estimular o gosto pelo estudo da História e pela figura de Jesus, mas isto somente se a encararmos como obra ficcional. Quando se mistura com a realidade, "Da Vinci" presta um enorme, porém reversível, desfavor.
As divagações históricas e os flashbacks são interessantes, porém quebram o ritmo da trama e se tornam morosos.
Há aqueles que adoram conspirações, mas quando todos fazem parte desta conspiração, excetuando os protagonistas, a história fica inverossímil.
A teoria literária tende a dividir os personagens em duas categorias: os planos, que não possuem vontade própria e se movem sob força das circunstâncias; e os redondos, personagens completos, que possuem motivações individuais, que movem a história de acordo com suas características.
Um exemplo de personagem redondo no cinema é o Dr. Richard Kimble, de "O Fugitivo". A mudança em sua vida - o assassinato de sua esposa e sua posterior condenação pelo crime - é algo exterior a ele, porém, só isto. Depois deste momento, toda a história está nas mãos de Kimble, que determina o que e como fará. Ele move a história, ao invés de ser movido por ela.
Já os personagens de "Da Vinci", Landgon e Sophie Neveu (Audrey Tautou), não possuem vontade própria. As coisas acontecem a eles, o que os obrigam a agir. São arrastados pelas mãos inábeis do destino (também cognominado de Dan Brown) e não possuem personalidade. São criaturas estéreis, sempre aguardando pela próxima decisão do deus ex machina.
A implausabilidade de certas teorias só convencem os mais desavisados e, para os que ainda caem em tais esdrúxulas teorias conspiratórias, basta assistir a um dos documentários da Discovery Channel sobre o santo graal ou ver alguma das entrevistas de Umberto Eco sobre o assunto.
Os únicos méritos de "O Código Da Vinci" são estimular o gosto pelo estudo da História e pela figura de Jesus, mas isto somente se a encararmos como obra ficcional. Quando se mistura com a realidade, "Da Vinci" presta um enorme, porém reversível, desfavor.
7 comentários:
Olá Henry, sou fã assíduo de seu blog de críticas cinematográficas, talvez pela similaridade entre nossas opiniões. Sua crítica ao filme O Código Da Vinci foi perfeita, tive as mesmas sensações e conclusões.
Henry, parabéns por mais este maravilhoso texto. Você sabe que sou leitor sincero, apoiador e divulgador do seu trabalho. Parabéns!
Obrigado por seus comentários.
E, para os leitores que quiserem dar alguma sugestão de filmes para serem resenhados, basta mandar uma mensagem para mim.
Abraços.
Realmente, é uma mania coletiva de ficar querendo ser pró ou contra tudo...De querer mostrar que tem uma postura...Uma enorme e irritante fome em polemizar as coisas ao invés de conhecer a fundo...
Gostei muito dos seus comentários!
Henry, estou com saudades das suas críticas!
Está na falta de um filme bom, para fazer uma resenha?
Se quiser te indico alguns ;)
Abraços, Marco.
com certeza vale apena fazer uma critica a este filme: FORREST GUMP : O CONTADOR DE HISTORIAS
eu amo esse filme
cara eu li o livro eu fiquei desacreditado... tudo que foi contado quendo eu era criança é mentira mesmo apesar de eu sempre esta com duvida em relação a biblia tem muita fantasia mais a verdade é esta mesmo? jesus foi um homem comum mesmo ?
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