sábado, dezembro 02, 2006

49 up (2005)

Um professor de filosofia costumava questionar, durante meu curso de graduação, onde estava a criança no homem e onde estava o homem na criança. Esta pergunta era retórica, visando demonstrar a interrupção que havia entre estas duas fases da vida, que um não estava contido no outro.
O filme de Michael Apted, "49 up" o contradiria, mostrando que ambos, criança e adulto, são complementares e nunca deixam de dialogarem.
O projeto é ambicioso, retratar a vida de uma dúzia de pessoas, começando desde os sete anos de idade e acompanhando-as a cada outros sete anos. Vemo-as em seus quatorze, vinte e um, vinte e oito, trinta e cinco, quarenta e dois e, finalmente, em seus quarenta e nove anos. Um projeto de uma vida inteira, retratando a vida inteira de outras pessoas.
O campo de pesquisa abarca desde as perspectivas sobre o futuro, o que tais pessoas planejavam para seu futuro próximo e distante, até aspectos pessoais, como relacionamentos, sexo, filhos e frustrações. O mais surpreendente é constatar como certas crianças possuíam claramente a diretriz pela qual conduziriam suas vidas, enquanto outras, com o passar dos anos, vagam de trabalho em trabalho, de divórcio em divórcio, só encontrando um rumo após atingirem a maturidade.
A proposta deste documentário era a de retratar a Inglaterra no ano 2000, mas, por abordar um tema tão delicado como o passar dos anos e a proximidade da morte, ele acaba se tornando um retrato do ser humano em todas as eras. E, mais do isto, "49 up" é um espelho terrível da nossa própria história, é um estímulo a olharmos nosso passado e relembrarmos nossos sonhos de crianças e vermos como falhamos na maioria deles; é um convite a revermos nossos sonhos presentes e descobrirmos o que estamos fazendo de concreto para torná-los reais. Por isto, é triste. Força-nos a constatar que fracassamos na maior parte das vezes e que o tempo passa rápido e ao que demos valor nem sempre era o mais importante.
"49 up" é melancolicamente maravilhoso e, para mim, um dos melhores documentários que já assisti. Talvez para outro espectador, a vida dos outros seja frívola, mas nada nos diz tanto respeito quanto nossas próprias vidas e um filme que nos faça refletir sobre ela não é algo que assistimos todo dia.

3 comentários:

Anônimo disse...

Depois de um dia na dermatologista,assisti ao filme e achei magnífico.
Me imaginei na pele de uma das crianças e gelei.Como nossa vida é rápida.Passa numa velocidade enorme,como nesse filme.Nota 10 + 1.
leoces2@yahoo.com.br

Anônimo disse...

Oi,
Gostaria de saber se esta série já foi traduzida (legendada) para o português. Gostaria de assistir.
Ah, gosto muito do seu blog.
Abraços
helenadeoliveira@hotmail.com

Henry Bugalho disse...

Acredito que deva haver uma versão legendada em português (parece que este documentário já passou na HBO), mas não deve ser nada fácil de se encontrar.