O jornalista cazaque Borat Sagdyiev é enviado aos EUA para realizar um intercâmbio cultural, com a proposta de aperfeiçoar seu magnífico país.
A idéia é despretensiosa e poderia muito bem se enquadrar num filme sério, documental ou dramático; mas "Borat" é o extremo oposto de tudo isto, com exceção do caráter pseudo-documental.
O intercâmbio cultural EUA-Cazaquistão é, na verdade, a descoberta de que os valores sempre herdados dos norte-americanos não são, nem devem ser, valores universais. A chegada de Borat é a constatação de que as coisas podem ser diferentes e, mais do que isto, que o diferente é realmente muito engraçado.
O Cazaquistão de Borat não é um país fatual, poderia ser o Uzbequistão, alguma ilha da Polinésia ou até mesmo o Brasil, não importa, o que Borat tenta nos mostrar é uma nova visão, completamente revolucionária, de como tudo poderia ser diferente, para pior ou melhor. O choque cultural entre o jornalista, repleto de preconceitos, e grupos de feministas, famílias "de bem" sulistas, negros em áreas pobres dos EUA, judeus, religiosos é brutalmente cômico. Ele é aquele rapaz sem noção alguma, sem educação, sem limites e, pior do que tudo, que não tem consciência do seu deslocamento.
Seguindo a linha dos filmes contra os EUA, o comediante Sacha Baron Cohen ataca, por sua vez, não a política norte-americana, mas sua moral hipócrita, preconceituosa e xenófoba.
Incrivelmente, "Borat" (cujo título completo é "Apredizado cultura na América para o benefício da gloriosa nação do Cazaquistão") galgou seu espaço e se tornou o primeiro lugar em bilheteria nos EUA. Talvez uma demonstração de que há vida inteligente no país e que consegue achar graça até mesmo dos patéticos valores que herdou.
Dificilmente se pode prever a recepção deste filme no Brasil, especialmente porque seu ataque possui um alvo específico. Mas, mesmo assim, "Borat" é incrivelmente engraçado e sua falta de "normalidade" seria cômico em qualquer país dito civilizado.
Seguindo o molde dos "road movies", "Borat" questiona quase tudo, menos o paradigma hollywoodiano de três atos: apresentação, confrontação, desfecho. Uma prova de que nem sempre se pode jogar tudo fora.
2 comentários:
Não sei qual a razão, mas eu não vou com a cara desse filme. Imagino que deva desconstruir com o ícone "american way of life", mas não gosto desse clima de deboche. Dá a impressão de fazer uma crítica, mas escondê-la com o humor... Depois que ver o filme, digo o que achei dele.
Abraços, Marco
Nem sempre esconder a crítica sob o humor é negativo. Chaplin conseguia fazer isto com maestria. Longe de querer comparar Sacha Cohen com Caplin, mas "Borat" é realmente muito engraçado.
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