Existem filmes que você sabe que serão bons mesmo antes de tê-los assistido. Este é o caso de "Babel".
Qual é a relação entre pastores marroquinos, uma família norte-americana, imigrantes mexicanos e uma adolescente surdo-muda japonesa?
Como em "21 gramas", o diretor mexicano Alejandro González Iñarritu abusa destas conexões mirabolantes e implícitas, as quais, acidentalmente, conduzem a desfechos terríveis.
Uma família de pastores de cabras, numa região árida e pobre do Marrocos, compra um rifle com a intuito de espantar os chacais que estão dizimando o rebanho. Acidentalmente, eles disparam contra um ônibus de turismo e atingem Susan (Cate Blanchet), esposa de Richard (Brad Pitt). O governo dos EUA imediatamente associa este incidente com um atentado terrorista, criando comoção mundial e dificultando o resgate de Susan.
Esta poderia ser considerada como a trama principal de "Babel". Porém, sem estar em menor grau de importância, há a história de Amelia, a babá dos filhos do casal Susan e Richard, que, não tendo quem cuidar das crianças, leva-as consigo para o México, para o casamento de seu filho; no Japão, Chieco, uma adolescente frustrada por não ter namorado, complexada por sua deficiência auditiva, procura freneticamente por um parceiro que queira tirar sua virgindade; por fim, o drama da família marroquina, desesperada pela culpa do disparo e pelo medo da punição. Assim como o título sugere, apontando para sua proximidade com a fábula bíblica da Torre de Babel, construída pelos homens para se aproximarem de Deus e como este, enfurecido com a soberbia dos homens, decidiu confundi-los, fazendo-os falar idiomas diferentes, para que não pudessem se entender e concluir o intento. "Babel" é uma Babel de idiomas, quase inteiramente legendado (fato comum no Brasil, mas raro nos EUA), traduzindo marroquino, espanhol e japonês. Se considerarmos como verídica a fábula, o filme de Iñarritu nos sugere que até hoje, sabe lá quantos mil anos depois, ainda não conseguimos nos entender, ainda estamos perdidos em meio a tamanhas diferenças, lingüísticas, culturais e políticas.
"Babel" é um filme extraordinário, daquela safra de produções que sutilmente apresenta suas posições, não como defesa de tese, mas mesclada com as expectativas e frustrações humanas. É através dos atos humanos que nossas fraquezas transparecem e atos inocentes e não-intencionais acabam se tornando, como na teoria do caos, eventos catastróficos e incontroláveis.
O filme de Iñarritu é uma defesa, ao mesmo tempo que repleto de melancolia, das diferenças. Simplesmente um dos melhores filmes de 2006.
Qual é a relação entre pastores marroquinos, uma família norte-americana, imigrantes mexicanos e uma adolescente surdo-muda japonesa?
Como em "21 gramas", o diretor mexicano Alejandro González Iñarritu abusa destas conexões mirabolantes e implícitas, as quais, acidentalmente, conduzem a desfechos terríveis.
Uma família de pastores de cabras, numa região árida e pobre do Marrocos, compra um rifle com a intuito de espantar os chacais que estão dizimando o rebanho. Acidentalmente, eles disparam contra um ônibus de turismo e atingem Susan (Cate Blanchet), esposa de Richard (Brad Pitt). O governo dos EUA imediatamente associa este incidente com um atentado terrorista, criando comoção mundial e dificultando o resgate de Susan.
Esta poderia ser considerada como a trama principal de "Babel". Porém, sem estar em menor grau de importância, há a história de Amelia, a babá dos filhos do casal Susan e Richard, que, não tendo quem cuidar das crianças, leva-as consigo para o México, para o casamento de seu filho; no Japão, Chieco, uma adolescente frustrada por não ter namorado, complexada por sua deficiência auditiva, procura freneticamente por um parceiro que queira tirar sua virgindade; por fim, o drama da família marroquina, desesperada pela culpa do disparo e pelo medo da punição. Assim como o título sugere, apontando para sua proximidade com a fábula bíblica da Torre de Babel, construída pelos homens para se aproximarem de Deus e como este, enfurecido com a soberbia dos homens, decidiu confundi-los, fazendo-os falar idiomas diferentes, para que não pudessem se entender e concluir o intento. "Babel" é uma Babel de idiomas, quase inteiramente legendado (fato comum no Brasil, mas raro nos EUA), traduzindo marroquino, espanhol e japonês. Se considerarmos como verídica a fábula, o filme de Iñarritu nos sugere que até hoje, sabe lá quantos mil anos depois, ainda não conseguimos nos entender, ainda estamos perdidos em meio a tamanhas diferenças, lingüísticas, culturais e políticas.
"Babel" é um filme extraordinário, daquela safra de produções que sutilmente apresenta suas posições, não como defesa de tese, mas mesclada com as expectativas e frustrações humanas. É através dos atos humanos que nossas fraquezas transparecem e atos inocentes e não-intencionais acabam se tornando, como na teoria do caos, eventos catastróficos e incontroláveis.
O filme de Iñarritu é uma defesa, ao mesmo tempo que repleto de melancolia, das diferenças. Simplesmente um dos melhores filmes de 2006.
2 comentários:
Não li a resenha pois ainda não vi o filme e quero que o filme me surpreenda. Mas espero muito dele...
O filme é realmente muito bom e a direção do Iñarritu é mesmo sensacional.
Sem dúvida ele é um dos diretores de maior sensibilidade da atualidade.
Só acho que não devemos esquecer do roteirista que trabalha sempre com ele: Guilhermo Arriaga.
Para mim ele e tão genial, senão mais, do que o Iñarritu.
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