sexta-feira, abril 14, 2006

O Jardineiro Fiel (2005)



2006 foi o ano em que Hollywood fingiu estar preocupada com questões sociais.
Falaram sobre preconceitos (Crash, Brokeback Mountain, Transamerica, Capote...), sobre censura e liberdade de expressão (Boa Noite e Boa Sorte...) e sobre grandes corporações que, através da exploração, oprimem povos de países e continentes atrasados (Syriana...).
"O Jardineiro Fiel", filme dirigido por Fernando Meirelles, nosso brasileiro notório do momento - ao lado do astronauta - , se inclui na última classificação.
Por detrás de uma trama amorosa, de uma busca obsessiva, e compreensível, por respostas, há uma conspiração internacional envolvendo a indústria farmacêutica.
Justin Quayle (Ralph Fiennes) é integrante de uma missão diplomática no Quênia. Um homem austero, polido e sem emoções evidentes é confrontado à sua contraparte ativa, visionária e empreendedora, sua esposa Tessa (Rachel Weisz). Esta, ao descobrir o envolvimento de uma poderosa empresa farmacêutica em diabólicos testes realizados em pobres coitados quenianos, é assassinada.
Restam a Justin duas alternativas medonhas: esquecer o assunto e tocar sua vidinha medíocre adiante, ou investigar o caso, honrar com a memória de sua esposa, mesmo que isto custe sua própria vida.
É óbvio que, se Justin optasse pela primeira escolha, mal haveria trama para rechear as quase duas horas de filme.
Ao encarar inimigos influentes, anônimos, ocultos em escritórios suntuosos em edifícios distantes da pobreza tremenda da África, Justin afunda-se gradualmente num lodaçal muito maior do que suas forças podem superar. Seguindo a trilha já percorrida por Tessa, Justin desafia o perigo, sendo levado às conseqüências últimas.
Todavia, "O Jardineiro Fiel" exagera.
Começa bem, com uma trama envolvente, aos moldes das versões cinematográficas de John Grisham (e estas parecem ter se inspirado, de algum modo, em Le Carré), e repleto de reviralvoltas a nos deixar aturdidos. A segunda metade, contudo, não passa de um panfleto enfadonho e ineficaz.
Nada contra o cinema defender uma causa, ainda mais quando se trata de uma boa causa. No entanto, a linguagem do cinema ficcional é distinta do documental. As imagens da pobreza africana, dos maus tratos, da exploração são muito mais enfáticas, na ficção, do que longos discursos questionando a idoneidade da indústria farmacêutica ou as segundas intenções dos corpos diplomáticos europeus ou norte-americanos.
"O Jardineiro Fiel" menospreza a inteligência do espectador, não permitindo que este pense e tire suas próprias conclusões. O filme propõe uma questão, porém, para seu demérito, também apresenta uma resposta. Não impele o espectador a retornar para casa e questionar, a ler artigos em jornais ou revistas, a procurar na internet sobre o caso. A investigação feita por Justin não deve ser repetida por nós; simplesmente devemos engolir as conclusões do filme, e ponto final.
Para quem deseja assistir um documentário sobre o assunto (a exploração da indústria farmacêutica na África), fica então uma sugestão, na qual são apresentados argumentos e contra-argumentos e para que as mentes mais questionadoras possam cavoucar suas próprias respostas: "A Origem da AIDS".
Não é tão fácil de ser encontrado nas locadoras quanto "O Jardineiro Fiel", mas certamente é menos pretensioso.

2 comentários:

Anônimo disse...

Achei este filme espetacular. Melhor do que eu esperava.
...e me fez pensar sim..
:)

Anônimo disse...

Assiti e gostei do filme, é um filme que nos faz pensar sobre o que acontece em nosso mundo, principalmente em paise pobres como é o casa do Quênia,nos mostra coisa que fingimos não ver como a corrupção, que passa por nós e não fazemos nada.È uma grande ficção realmente, so que aborda coisa reais, como a fome, a Adis e governos que não se preocupam com uma sociedade carente.