Em 1963, ano em que se inicia a história de "Brokeback Mountain", os Estados Unidos ainda não haviam mergulhado na onda da revolução sexual. Se bem que no Wyomming a tal revolução jamais deve ter chegado.
Ennis Del Mar (Heath Ledger) e Jack Twist (Jake Gyllenhaal) se conhecem após serem contratados para pastorearem ovelhas na Montanha Brokeback. O isolamento e uma coexistência quase matrimonial os aproxima, fazendo com que, numa fatídica noite gelada, Ennis e Jack se relacionem sexualmente. A trama de "Brokeback" se desenrola por mais de um vintênio, período no qual tanto Ennis quanto Jack são obrigados a esconder sua homossexualidade e revestirem-se de uma carapuça de vaqueiros machões.
O entusiasmo com o qual esse filme foi recebido, ganhador de três Globos de Ouro e provável ganhador dos Oscars de Melhor Filme e Melhor Diretor, representa duas mudanças importantes:
1 - O homossexualismo está deixando de ser encarado como uma aberração, como pecado, como algo a ser estirpado da sociedade. Mais do que nunca, as pessoas estão revendo seus conceitos e percebendo que a homossexualidade sempre existiu e, nas épocas em que aparentava não existir, era porque, devido ao preconceito, tinha de ser velado.
2 - Que o cinema também está disposto a pôr de lado seus juízos moralistas (principalmente o puritanismo norte-americano) e deixar de retratar o homossexualismo esterotipadamente. Comédias ou Tragédias (no sentido mais exato dos termos) tendem a mostrar os dois extremos do mundo gay, seja a bicha-louca ou a drag queen ("Priscila, A Rainha do Deserto", "Para Wong Fu, Obrigada por Tudo, Julie Newmar"), completamente fora dos padrões sociais vigentes, ou o homossexual, seja homem ou mulher, transtornado, socialmente inaceito, oprimido, cujo único desfecho é, inevitavelmente, a desgraça ("Meninos Não Choram", "Monster: Desejo Assassino", "Filadélfia").
Não que "Brokeback Mountain" faça do homossexualismo um universo maravilhoso, contudo, o modo como Ang Lee escolheu para contar essa história, resultado de uma incrível sutileza e tato, surpreende. Tamanha é a naturalidade com a qual o tema é apresentado, que poderia se tratar de um romance adúltero heterossexual.
De fato, se não fosse pelo elemento gay, o que ainda hoje em dia é chocante e causa estupor, esse filme seria trivial e passaria desapercebido. Porém, por pisar num solo relativamente arenoso e quase intocável, "Brokeback" tem se tornando um fenômeno de público e de crítica.
Certamente será uma daquelas obras que dentro de dez ou quinze anos, as pessoas olharão para trás e pensarão: "Mas por que um filme desses causou tanta comoção?"
Outro fator surpreendente é a própria presença de Ang Lee na direção. Como um chinês, que dirigiu filmes épicos em sua pátria (como "O Tigre e o Dragão"), conseguiria apreender o que se passa no coração da América?
Todavia, a nacionalidade do diretor provou ser o menor dos problemas e, talvez, pelo fato mesmo de ser um estrangeiro, ele pôde perceber com sensibilidade essa mudança sexual e comportamental que tem ocorrido lentamente nos últimos vinte ou trinta anos no Ocidente.
Como quase tudo que envolve preconceito, o antagonista não se trata de um indivíduo somente, mas de toda uma construção cultural, que define o que é ou não permitido. Em "Brokeback Mountain", o inimigo é a sociedade, mas, acima de tudo, é o preconceito que os próprios personagens trazem dentro de si, são eles que não se permitem ser como são.
O filme de Lee é um pequeno passo na luta contra o preconceito e, possivelmente, nem seja um dos passos mais relevantes.
Também pode ser lido em
www.adorocinema.com.br
Ennis Del Mar (Heath Ledger) e Jack Twist (Jake Gyllenhaal) se conhecem após serem contratados para pastorearem ovelhas na Montanha Brokeback. O isolamento e uma coexistência quase matrimonial os aproxima, fazendo com que, numa fatídica noite gelada, Ennis e Jack se relacionem sexualmente. A trama de "Brokeback" se desenrola por mais de um vintênio, período no qual tanto Ennis quanto Jack são obrigados a esconder sua homossexualidade e revestirem-se de uma carapuça de vaqueiros machões.
O entusiasmo com o qual esse filme foi recebido, ganhador de três Globos de Ouro e provável ganhador dos Oscars de Melhor Filme e Melhor Diretor, representa duas mudanças importantes:
1 - O homossexualismo está deixando de ser encarado como uma aberração, como pecado, como algo a ser estirpado da sociedade. Mais do que nunca, as pessoas estão revendo seus conceitos e percebendo que a homossexualidade sempre existiu e, nas épocas em que aparentava não existir, era porque, devido ao preconceito, tinha de ser velado.
2 - Que o cinema também está disposto a pôr de lado seus juízos moralistas (principalmente o puritanismo norte-americano) e deixar de retratar o homossexualismo esterotipadamente. Comédias ou Tragédias (no sentido mais exato dos termos) tendem a mostrar os dois extremos do mundo gay, seja a bicha-louca ou a drag queen ("Priscila, A Rainha do Deserto", "Para Wong Fu, Obrigada por Tudo, Julie Newmar"), completamente fora dos padrões sociais vigentes, ou o homossexual, seja homem ou mulher, transtornado, socialmente inaceito, oprimido, cujo único desfecho é, inevitavelmente, a desgraça ("Meninos Não Choram", "Monster: Desejo Assassino", "Filadélfia").
Não que "Brokeback Mountain" faça do homossexualismo um universo maravilhoso, contudo, o modo como Ang Lee escolheu para contar essa história, resultado de uma incrível sutileza e tato, surpreende. Tamanha é a naturalidade com a qual o tema é apresentado, que poderia se tratar de um romance adúltero heterossexual.
De fato, se não fosse pelo elemento gay, o que ainda hoje em dia é chocante e causa estupor, esse filme seria trivial e passaria desapercebido. Porém, por pisar num solo relativamente arenoso e quase intocável, "Brokeback" tem se tornando um fenômeno de público e de crítica.
Certamente será uma daquelas obras que dentro de dez ou quinze anos, as pessoas olharão para trás e pensarão: "Mas por que um filme desses causou tanta comoção?"
Outro fator surpreendente é a própria presença de Ang Lee na direção. Como um chinês, que dirigiu filmes épicos em sua pátria (como "O Tigre e o Dragão"), conseguiria apreender o que se passa no coração da América?
Todavia, a nacionalidade do diretor provou ser o menor dos problemas e, talvez, pelo fato mesmo de ser um estrangeiro, ele pôde perceber com sensibilidade essa mudança sexual e comportamental que tem ocorrido lentamente nos últimos vinte ou trinta anos no Ocidente.
Como quase tudo que envolve preconceito, o antagonista não se trata de um indivíduo somente, mas de toda uma construção cultural, que define o que é ou não permitido. Em "Brokeback Mountain", o inimigo é a sociedade, mas, acima de tudo, é o preconceito que os próprios personagens trazem dentro de si, são eles que não se permitem ser como são.
O filme de Lee é um pequeno passo na luta contra o preconceito e, possivelmente, nem seja um dos passos mais relevantes.
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Um comentário:
Eu achei o filme muito bom, mas pelo lobby que fizeram dele, eu esperava por uma revolução do cinema. Mas, mesmo assim o filme é bom. Também fiz uma resenha dele, depois passa lá pra ver. Aproveitando, queria dizer se vc viu Crash - No Limite? Queria saber a sua opinião sobre o filme...
Marco
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