O diretor Mike Leigh é obsecado pelo cotidiano. As pequenas coisas da vida, os momentos que passam desapercebidos, os diálogos sem segundas intenções, os atos aos quais poucos dão importância, é sobre esses elementos que esse diretor britânico erige suas obras.
Uma faca de dois gumes.
Esse mergulho na realidade como ela é, despida das cores ficcionais, pode fazer surgir grandes vislumbres da existência, ao mesmo tempo em que pode criar as narrativas mais tediosas concebíveis.
Em "Segredos e Mentiras", Leigh apresentou um enredo moroso e arrastado. Soneca na certa!
Porém, em "O Segredo de Vera Drake", ele extrapola o universo puramente cotidiano e introduz uma trama instigante.
Vera Drake (Imelda Staunton) é uma senhora como qualquer outra: trabalha como doméstica em casas de famílias, ajuda sua mãe idosa, diligente esposa e mãe atenciosa. Enfim, uma pessoa acima de qualquer suspeita. No entanto, uma vez por semana, Vera ajuda garotas a se livrarem de uma gravidez indesejada. Para ela, não há maldade nem malícia alguma nesse ato. Mas, após uma de suas "pacientes" ficar gravemente doente, Vera descobre da pior maneira a repressão moral e criminal da sociedade em relação ao aborto.
"O Segredo de Vera Drake" não é um filme panfleto, não defende uma tese, não toma uma posição. Vera não tem consciência do risco que pode estar causando à saúde das pessoas às quais ela ajuda, tudo que ela tem em mente é tentar dirimir o sofrimento daquelas jovens.
A interpretação de Imelda Staunton é angustiante por seu realismo. A afasia de Vera Drake diante da punição e do escárnio público está entre um dos momentos mais memoráveis do cinema. Apesar do trabalho incrível de Hilary Swank em "Menina de Ouro", deve-se reconhecer que a maturidade de Staunton a faz brilhar, e os dilemas da mulher que incita outras ao aborto é, por sua sutileza, muito mais desafiadores do que os da boxeadora tetraplégica.
Não há os malabarismos retóricos que tanto agradam nos filmes judiciais norte-americanos. Não há aquele suspense de última hora, aquela suspensão em saber se o juri inocentará ou condenará a mocinha.
O filme é cru e triste como a realidade. Um mundo no qual não há peripécias, sem clemência para quem erra.
"O Segredo de Vera Drake" é aquele louco escondido no porão do qual, freudianamente, Dalton Trevisan nos alerta.
Uma faca de dois gumes.
Esse mergulho na realidade como ela é, despida das cores ficcionais, pode fazer surgir grandes vislumbres da existência, ao mesmo tempo em que pode criar as narrativas mais tediosas concebíveis.
Em "Segredos e Mentiras", Leigh apresentou um enredo moroso e arrastado. Soneca na certa!
Porém, em "O Segredo de Vera Drake", ele extrapola o universo puramente cotidiano e introduz uma trama instigante.
Vera Drake (Imelda Staunton) é uma senhora como qualquer outra: trabalha como doméstica em casas de famílias, ajuda sua mãe idosa, diligente esposa e mãe atenciosa. Enfim, uma pessoa acima de qualquer suspeita. No entanto, uma vez por semana, Vera ajuda garotas a se livrarem de uma gravidez indesejada. Para ela, não há maldade nem malícia alguma nesse ato. Mas, após uma de suas "pacientes" ficar gravemente doente, Vera descobre da pior maneira a repressão moral e criminal da sociedade em relação ao aborto.
"O Segredo de Vera Drake" não é um filme panfleto, não defende uma tese, não toma uma posição. Vera não tem consciência do risco que pode estar causando à saúde das pessoas às quais ela ajuda, tudo que ela tem em mente é tentar dirimir o sofrimento daquelas jovens.
A interpretação de Imelda Staunton é angustiante por seu realismo. A afasia de Vera Drake diante da punição e do escárnio público está entre um dos momentos mais memoráveis do cinema. Apesar do trabalho incrível de Hilary Swank em "Menina de Ouro", deve-se reconhecer que a maturidade de Staunton a faz brilhar, e os dilemas da mulher que incita outras ao aborto é, por sua sutileza, muito mais desafiadores do que os da boxeadora tetraplégica.
Não há os malabarismos retóricos que tanto agradam nos filmes judiciais norte-americanos. Não há aquele suspense de última hora, aquela suspensão em saber se o juri inocentará ou condenará a mocinha.
O filme é cru e triste como a realidade. Um mundo no qual não há peripécias, sem clemência para quem erra.
"O Segredo de Vera Drake" é aquele louco escondido no porão do qual, freudianamente, Dalton Trevisan nos alerta.
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