segunda-feira, novembro 28, 2005

Madagascar (2005)


A questão entre cultura e natureza sempre inquietou a humanidade.
Não cabe aqui fazer um resumo das diferentes hipóteses desenvolvidas no decorrer da História, mas cumpre afirmar que, vez ou outra, os pratos da balança penderam para um dos lados. A cultura, como a instância decorrente da socialização dos homens, já foi interpretada como o fator principal que nos distingue dos demais animais, ao mesmo tempo em que foi encarada como um fator corruptivo, de desentranhamento da verdadeira pureza humana.
Pode parecer estranho para muitos que uma animação aparentemente tão despretensiosa quanto "Madagascar" dê margens a relacioná-la com tais indagações acerca da cultura/natura. Porém, basta fazer uma análise superficial do filme para perceber que essa problemática está no cerne do enredo e, mais do que isso, é resolvida de maneira extremamente simplória.
O filme se inicia no zoológico do Central Park, em Nova York, do qual a zebra Marty (Chris Rock) quer sair a qualquer custo. Movido por uma ânsia essencial, Marty deseja voltar para a natureza, retornar para a selva. Ideal que nem de longe é compartilhado por seus amigos, o leão Alex (Ben Stiller), a hipopótamo Gloria e a girafa Melman. Numa fantasiosa representação da vida num zoológico, com massagens teraupêuticas, cabelereiros e acupuntura para os animais, "Madagascar" discaradamente simula um ambiente nos quais os animais cativos possuem o melhor tratamento possível, com uma vida muito melhor do que a "selvageria" desenfreada da floresta.
Nesse mundo, a vontade Marty é quase uma insanidade. Por que trocar conscientemente uma vida regrada, controlada, protegida, por uma desconhecida e perigosa?

Nesse sentido, "Madagascar" é o extremo oposto de "Procurando Nemo". Enquanto que nesse segundo, o pequenino Nemo parte numa busca de auto-conhecimento, de auto-aperfeiçoamento, de superação de seus próprios limites, o primeiro é a insanidade daqueles que trocam o certo pelo duvidoso, a segurança pelo desconforto. Nemo é o aventureiro que não se satisfaz com os limites que a sociedade lhe impõe, ele está acima das convenções sociais e é através das adversidades que ele aprende. Marty é o indivíduo de classe-média, entendiado com sua vida cotidiana e rotineira; precisa partir, apenas para descobrir que ele pertence àquela vida rotineira.

Marty e seus amigos conseguem escapar do seu cativeiros e vêem-se lançados num mundo estranho e hostil. Madagascar, investada por lêmures e feras carniceiras, repele Marty, Alex, Gloria e Melman. Tudo lhes é alheio, eles não pertencem ao cenário, tampouco podem se adaptar. O selvagem em "Madagascar" é sinônimo de barbárie, de imoralidade; a civilização, por sua vez, é o progresso, o relacionamento respeitoso, a inserção no universo da eticidade.
Esse tolo reducionismo é apenas um dos pontos negativos desse filme que não cativa. A história morna, personagens planos, piadas insossas fazem de "Madagascar" uma decepção.

Um filme sobre os quatro pingüins psicóticos seria, sem dúvida, muito mais atraente e engraçado.

2 comentários:

Anônimo disse...

Concordo. Eu esperava por muito mais do filme... Ele é uma grande decepção. Mas um filme sobre os pinguins não sei se seria uma boa escolha. A DreamWorks fez um curta dos Pinguins e foi tão horrível quanto o filme... =/
Marco

Gory disse...

Fala sério. O desenho é muito engraçado. E olha que não sou chegado a desenhos.