segunda-feira, março 14, 2005

O Homem Que Sabia Demais (1956)



"O Homem Que Sabia Demais" faz parte dos thrillers conspiratórios dirigidos por Alfred Hitchcock (tal qual "Intriga Internacional").
O filme se prenuncia como mais um daquela safra xenofóbica norte-americana e teria tudo para ser um enredo medíocre, de uma família de classe média-alta que, numa viagem à África muçulmana, vê-se envolvida num evento que foge ao controle.
Os temas abordados pela indústria cinematográfica serviriam, para o pesquisador que se proposse a analisá-los, como uma fonte abundante para uma compreensão sociológica da formação do espírito norte-americano. Rasteiramente, pode-se localizar alguns temas recorrentes: o serial killer que assassina jovens que mantêm relações sexuais antes do casamento - baseado na rígida conduta sexual protestante ("Sexta-feita 13", "A Hora do Pesadelo", "Medo em Cherry Falls", etc.); o herói, que após transpôr uma série de obstáculos aparentemente instraponíveis, atinge seu objetivo - em comparação ao self-made man ("Matrix", "Guerra nas Estrelas", "O Aviador", entre outros); o indivíduo que deixa seu lar e viaja para algum lugar exótico, tem alguma espécie de problema e sente-se impotente diante de uma cultura e língua estranhas - revelando a supra-citada xenofobia e apego à pátria tão característica dos norte-americanos, além de configurar uma certa ignorância, que decerto eles consideram como virtude, quanto aos hábitos e costumes alheios ("Busca Frenética", "A Praia", "Expresso da Meia-Noite", e assim por diante).
É claro que esta enumeração acima não esgota, nem parcialmente, as temáticas dos filmes americanos, mas serve apenas como um amostragem de como o enredo está imbuído de algumas características determinantes da mentalidade e das fobias desta potência.
Contudo, apesar do tema, Hitchcock não cede à mesmice e a sua trama atinge proporções globais. O doutor Ben McKeena (James Stewart), durante uma viagem com sua esposa (Doris Day) e filho ao Marrocos, vê um homem ser assassinado no mercado público. Ao tentar ajudá-lo, o homem sussurra em seu ouvido um terrível segredo, que faz com que seqüestrem seu filho para que ele não revele a ninguém o que ouviu.
O filme é envolvente e, como grande parte das obras de Hithcock, ele se tornou referência quanto a certas estruturas narrativas e plano-seqüências. Esta versão, com Stewart e Doris Day, é uma regravação realizada em 1956 do original, dirigido pelo próprio Hithcock, de 1934.
O compositor da trilha sonora é Bernard Hermann (o mesmo de "Psicose") e sua habilidade minimalista é determinante para o clima tenso do filme. No entanto, ele se revela muito mais do que um compositor de uma nota só e compõe uma belíssima obra orquestral e uma canção original - "Que Sera, Sera"- que lhe valeu o Oscar.

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